segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Por hora

Trago que é pra passar o tempo,
E meu pulmão agradece a morte lenta.
Dispa-me que sou desprovida
Do desejo de ir embora; ainda não.
Preciso de mais do que me provaste.
Anseio por toques, beijos e olhares.
Respiração ofegante e nudez no sofá.
Quero suor, o cheiro e a sensação de voar.
Não me leve daqui, não me retire ainda.
Deixa que vou só, cheguei sozinha.
Sei me cuidar.
Apenas permita-se mais um gole,
Ainda não estou saciada.
Meu corpo geme e faz calar.
As estranhas extremas doçuras extrapolam.
São tantos os êxtases, o corpo não quer calar.
Depois na surdina, vou-me tranquila.
Escapulindo pela beirada.
Do jeito que você me quer.
Não é pra amanhã, é por hora.
E agora, me devora, sou o que quiser.

P.S

Dedicado à ela


Falar de saudade, dois copos sobre a mesa daquele bar, aquelas duas pessoas, as mesmas frases, o mesmo olhar. Monótomo, vagaroso semblante, dois vagos corpos, bocas fechadas, corações errantes.
Se é pulsátil, pulse entre nós, vem de retrátil, algoz.
Materiais são coisas imaturas, não desabrocharam, perderam o tempo, apodreceram no jardim. Prefiro teus sorrisos, as covinhas, os sibilos, as murmurias e aquele velho pano de cetim.
Enfeitarei os quadros imaginários, pintados em minha mente tão lúcida, tão louca, tão ardente! Que é pra fazer sentido à poesia, jovem senhora que dança, que gargalha e bebe a noite inteira. Mergulha nas idolatrias dos amantes, dos fracos, das viúvas e dos renegados. É filha da saudade, mãe do poeta. Dedico-te essa escrita, oh poesia! Menina remota de sons e aromas, de beijos e olhares, que somam, que somem com as dores dos lugares. Que enfeitiça o feiticeiro. Atiça os pelos, regojiza os doentes. Dá teu mel a quem precisa e plante o céu no peito que agoniza. Vê-se que é ela, poesia,  liberdade em forma de rima, verso e fantasia.

A.F.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Remember?


Pego papéis amassados, coloco-os no bolso da minha camisola, abro a porta e vou atrás de você. Saio pela rua, quase nua, quase. Saio perseguindo seus rastros, tentando disfarçar a ansiedade. Engulo o choro, seguro firme em meu bolso, garantindo que nada de lá escape. Nós não precisamos terminar assim. Você disse que seria pra sempre, remember?
Meus olhos marejados, a sensação estranha na espinha dorsal, o cérebro congelado e pouco sangue, pouco espasmo. Meu corpo não me reconhece, é muito difícil respirar sem doer. Quero te encontrar, dizer das promessas, das malditas promessas. Falar daquela vez, da outra, mas talvez você já tenha pegado um táxi, talvez você já tenha entrado em um ônibus, daí seria tudo em vão. A dor seria por nada.
Tropeço nos meus pés, e o chão é meu alvo, Estou com um pouco de dor na cabeça agora, talvez o molhado só seja um pouco de sangue, um pouco de lágrimas, muitas delas. E a ardência em meus cotovelos, e os lábios só um pouco inchados. Deixa eu passar, gemia com quem passava... Deixa eu passar, por favor! Berrrava.
E meus cabelos estavam ao vento, aquelas cabelos que você adorava sentir, remember? Os velhos grampos que você colocava para aquietá-los, as fitas e os laços. Ah, tempos bons do amor, das cores e dos sóis que iluminaram nosso quarto em dezembro.
Outra vez as luzes nas casas, e o pesadelo volta, volta e me revolta a sensação de nada poder fazer. É natal outra vez, alguns ousam dizer, mas pra mim é só mais um dia, quando você partia meu coração e partia de mim, longe e tão longe que não me ouviu berrar teu nome, remember?

...

A.F

domingo, 20 de dezembro de 2015

Quando ela me olha assim


Trouxe-lhe flores, aquelas que vimos ontem.
Percebi coisas, antes era cego.
Você ama tanto surpresas, resolvi voltar cedo.
Amei aquele bolo de cenoura que me fez.
Amei o doce mais doce do seu beijo de manhã.
E eu amo quando me olhas assim...
Era difícil me abrir.
Era complicado falar sobre amor.
Você chegou com esses olhos,
E era tarde demais para esconder.
Resolvi assumir essa paixão.
E hoje estamos juntos, mas eu esqueci coisas.
Não mais reconheci sua beleza,
E toda vez que você fazia o cabelo,
Passava horas naquele salão,
Eu não elogiava, não reparava.
Mas estou aqui pra dizer obrigado,
Por toda vez que ficou mais linda ainda do que é.
Por cada beijo sem eu pedir.
Por cada conselho sem me cobrar.
Por cada eu te amo que ouvir, sem nada dizer.
Desculpa por esquecer de te conquistar todo dia.
Desculpas, estou seriamente ferido.
Não acredito que deixei você pra ir com outros.
Troquei você por tardes em bar, e noites em baladas.
Troquei seu colo, por bebedeiras á toa.
Você é capaz de perdoar alguém assim?
Agora estou completamente atento aos detalhes.
Aqueles pormenores que você tanto falava.
Hoje entendo que o amor está neles.
Nas pequenas coisas, geradoras de atos grandes.
Engraçado, olhando você agora,
Sinto que vale à pena tudo.
Estou dispostos, você merece o melhor.
Você é aquela pessoa, aquela especial de uma vida inteira.
Não desiste de mim, serei diferente.
Terá de mim toda dedicação, todo amor do mundo.
Vem cá, encaixe seu corpo com o meu.
Nascemos pra isso, pra ficarmos juntinhos.
Ah, eu amo quando você me olhas assim...

P.S

Mais uma de adeus


Quando leres isso, já não vou estar aqui.
Então se atente nas coisas que não digo.
É importante para dar certo.
Ou pelo menos foi um dia.
Sei que já está com outra moça.
Ela é tudo aquilo que merece.
Eu nunca fui, quer saber,
Eu era sim.
Você não lutou por mim.
Pode dizer o que quiser.
Mas você não sabe lutar.
Sempre ficou ai, do jeito que veio.
Você não calçou luvas.
Não aprendeu artes maciais.
Não frequentou academia.
Não treinou, nem nada.
Ao contrário, cruzou os braços,
Deixou as coisas irem.
E olha onde está agora.
Do lado de alguém que não conhece você.
Você não sabe de nada.
Você sempre foi assim.
Mas é assim, só que as coisas giram.
Nossas conversas, melhor apagar.
Nada vale à pena.
Já estou de partida,
Da vida, dos sonhos, das dores que senti.
De tudo que lembre você.
Afinal, nunca fomos um casal.
Seja feliz ao lado de outra pessoa.
Não te desejo mal nenhum.
O amor não se alegra na dor alheia.
E essas coisas vão passar.
Sempre passam...

P.S

domingo, 6 de dezembro de 2015

Sobrancelhas


Sei que muitas vezes não sou o que esperava que eu fosse. Sei que sou muitas vezes o oposto do que pensas. Mas, só eu sei que pensar não leva às flores, e suponho que não entenda muitas vezes o que eu falo. Meu falar te confunde um bocado, e de pouco em pouco já não me entendes. As coisas andam meio rápido, mas é lento que se vence. Então pegue logo no meu braço, questione e se deixe questionar. Junta-nos em um abraço, e assim sei que podemos voar. As coisas não são só pelo seu fracasso, são os meus dias de neura, meus erros e pecados. São as luzes, as cores e os cadarços, são as penas, o vento e a calmaria plena. Redundância é meu embaraço, para dizer-te que não vou voltar atrás. Vale à pena. Mesmo não sendo entendida, sei dos teus motivos, e sabes das minhas teimosias. Nos conhecemos pelo traço, a sua sobrancelha me guia. As cordas do teu violão, os teus cachos, as poesias e todas as nossa manias. Não sou muitas vezes perfeita, mas sou o que um dia você dizia. Pensa o que quiser de mim, pois sou o que tu me cativas. Pensar é um mergulho no íntimo da fantasia, então vamos nos aprofundar todo dia. Prometo-te beijar na matina, e o mesmo à noite farei. Apenas não descanse só um dia, o amor não tira férias, eu sei.

P.S

My pain


Dias vazios, cheios de mim.
Sentia que podia, e no fundo me perdi.
Tomei do cálice, e o sabor amargou.
Não vou cuspir, vou ter que engolir
É tudo meu, só eu sei da minha dor.

P.S

Parcelar a dor


De repente você não estava mais aqui.
Apenas o seu cheiro senti,
Que de longe já esperava.
Você não mais se queixava.
Deixou de vir pro jantar.
Emendava uma ida à casa de amigos.
E eu ficava sentada, fingindo assistir tv.
Os dias passaram, e meu relógio quebrou.
Só ontem percebi.
Aquela parede rachada,
As vidraças, as cortinas que não compramos.
Fomos deixando ser, acontecer e morrer.
Está tudo morto aqui.
Não é culpa minha, nem de você.
Não soubemos amar,
E pagamos o preço.
Não dá pra parcelar a dor...

P.S

domingo, 22 de novembro de 2015

Lê-se amor


O amor é cheio, nós vazios.
Enchemo-nos dele, e ele se cansa de nós.
Prefere os laços, que são frágeis.
Temos um medo de romper-se.
Atamos, e nos precipitamos em nós demais.
Quando nos vemos dentro dos medos,
Das voltas e reviravoltas que trás,
Nos damos conta, que a ponta deveria estar solta.
para irmos e virmos.
Para eles irem e voltarem.
Para o amor se encher cada dia mais.
Para tudo não ser mais uma historia.
E ser realidade, dentro e fora.
Mesmo assim tememos por nós,
Por aqueles outros de lá.
Tememos por nos perdermos,
E não mais nos encontrarmos.
Mas o mundo, meu querido, gira.
E é tão bonito circular.
Um dia nessas avenidas frias,
Vamos nos encher, para não mais esvaziar.

P.S.

É assim que vai ser


Quando acordei beijei você.
O gosto de café, ainda sinto.
A temperatura do teu corpo.
Os sons do te sorriso.
Aqueles braços que me cobriram.
Talvez recitaram uma antiga canção.
De modo que adormeci sorrindo.
E acordei sonhando então,
O sol veio de mansinho
Me deixando em pé.
Caminhei descalça,
Peguei o nosso café.
A tapioquinha no prato,
E tudo feito por amor.
Tinha o melhor sabor,
E eu te abracei de volta.
Aquela sensação de paz.
Voltando pra mim, indo até você.
Em um balanço de rede,
Lá no quintal da nossa casa.
É assim que vai ser.

A.F.

sábado, 24 de outubro de 2015

Death of love


Pra onde foram as palavras doces e aquelas músicas todas?
As conversas horas a fio, e os dias eternizados?
Hoje está tudo tão inervado.
Um frio que transparece em emotions.
Os sentimentos em barras, em fotos atrás de curtidas.
O amor próprio nunca foi tão explorado.
Ah, as velhas manhãs ao lado de alguém.
Das flores colhidas para entregar-lhe.
Das poesias e dos filmes ao fim de mais um dia.
É tão mais fácil baixar, assistir enquanto mexem no celular.
Onde estão os amores para toda uma vida?
Atrás de pseudônimos, atrás de subnicks, atrás de status...
O mundo corrompeu o que restou do amor.
O amor está em crise, o dinheiro sempre vai existir.
O amor entrou em extinção.
E não restaram corações capazes de amar.
Tão mais simples entrar e conversar com alguém do outro lado.
Falta coragem de sair de casa, ir atrás de alguém.
Preferível ficar onde se está e lamentar.
Colocar uma carinah triste, e no fundo não se estar.
Chamar a atenção o quanto quiser.
E falecer sozinho, com um número na tela.
Das possíveis pessoas que te amam,
Mas ninguém ama, todo mundo finge.
E essa dor, está tão estampada, que todo mundo aceitou.
A anestesia corrompeu além do corpo,
E a alma hoje se cala e assiste essa miserável cena.
A falência múltiplas de órgão do amor.

A.F

Do menos não me interessa mais


Hoje o dia amanheceu igual a todos os outros.
Poucas coisas mudaram desde aquele dia.
Talvez não tenha reparado na samabaia.
Ou nos sons engraçados das folhas espalhadas.
Apenas sinto o toque frio que meu corpo emana.
Apenas fito o que eles me mostram.
Coisas repetitivas; dias amenos.
Do menos não me interessa mais.
Quero dias sufocantes, e sentir-me louco.
Usar algumas palavras difíceis.
Combinar um filme e desmarcar no dia.
Cometer alguns erros toscos.
Escrever no muro e correr.
Coisas também banais, mas nada usuais.
No mais, só peço isso.
Vida, nada menos que ela.
Passar a dar valor, passar a aquecer meu corpo.
E sentir no paladar o bom e velho gosto,
De tentar, cair e superar.

P.S

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Sóu


Aquelas palavras foram ditas aos berros. Mas no fundo foram pensadas no silêncio das noites que passei pensando em nós. Desculpe não ser o que esperava que eu fosse, ou quem sabe aquilo que sou é muito pior. Pensei, acho que não temos que repassar o que já foi dito. As mesmas e velhas palavras, são dores que mutuam essas zonas de desconforto que pairam sobre a gente. De novo, não acho que nos falta, mas nos perdemos... Não sei. Sua favorita frase, sua. Nós precisamos usar o nós, e não nos enforcarmos neles. Não quero julgar você, não quero me perder dentro de mim, eu só peço que escute os versos, as rimas, os traços em mim. 💙

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

De praxe


Falar sobre relacionamento sempre foi muito difícil. Vivê-lo ainda mais é.
A coerência gramatical, emocional, psicológica. Tudo vira um tumulto de interrogações.
E as respostas? Foram todas falsamente respondidas. Outro amor, outras dúvidas.
Inconstantes momentos. Filosofias baratas. Canções melosas. Falhas, e mais um pouco.
Nada do que se foi dito, será de fato solucionado. Cada pessoa tem seu brilho.
Cada coração tem seu motivo. Alguns mais, outros menos. Porém, todos em prol de alguém.
Amor. Melhor nem começar aprofundar isso. Levam horas do dia, da semana, do mês, do ano, da vida do ser humano.
Pulamos isso, encobrimos aquilo. Engolimos outros, forjamos alguns. Desmentimos diversos.
Aceitamos os fatos. Brigamos do nada. Reconciliamos em prantos de juras eternas.
E no fim nos beijamos, e estamos novamente nessa fase da vida.
Relacionamentos complicam nossa mente, mas é de praxe dizer que precisamos disso.
A paciência é uma dádiva, mas nos casos os caos são extremos, e não existe isso quando se perde o que não se tem.
Admitimos, erramos, e também acertamos, porém, nos limitamos.
Daí, acontece que não amamos, nos renegamos e nos debruçamos por outros, e nos esquecemos de nós.
Quando acordamos, nos ligamos do que perdemos.
De fato, se relacionar não é pros fracos.
Mas é necessário, então, não percamos a chance de nos conhecer.
É bom e faz bem, deixar marcas na vida de alguém.

P.S

Carta coringa


Estavam todos reunidos, e ele a viu. Aqueles cabelos azuis eram inconfundíveis. Ela parecia bem, feliz. Ele se sentiu mal. Ela segurava outra mão. Dessa vez não era ele ali. Foi trocado. Não bem assim. Ele teve a oportunidade, a dispensou. Ela não iria esperar todo tempo do mundo. Ela ansiava por alguém que a entendesse. E olha lá, ela o encontrara em outro homem. Ele fingiu não tê-los visto, cumprimentou à todos ali. Na vez dela, apenas acenou com a cabeça. Ela entendeu o sinal, retribuiu com um sorriso acanhado. Em seguida, ela viu quando ele a puxou e roubou um beijo da ex-mulher da sua vida. Tempos atrás eles estavam viajando em uma moto, sem rumo, sem muitos planos em vista. Apenas o desejo de conhecer o mundo. Ele não queria deixar pra depois, mas ela com o tempo quis uma família. Ela mudou seus conceitos, suas escolhas, seus horizontes. E quando ele deu por si, estava em cima de uma loira peituda. Ela na porta, as lágrimas dela no dia que ela pegou as malas e partiu. Esses momentos passaram rápido em sua mente. Ela agora estava com uma aliança, e as fotos da sua filha estavam todos os dias sendo atualizadas no instagram. Ela arranjara a família que pretendia ter. E ele? Estava seguindo, conhecendo outros lugares. Mas o lugar que ele mais amava, não era mais dele.  Um dia sentindo aqueles cabelos azuis em seu peito e o sussurro de uma saudade, desejou. A realidade era um espinho, e ele ficou ali, aguentando firme, o reencontro com sua dor. E o sangue foi escorrendo em seus olhos, a cada aconchego, a cada beijo e a cada desejo dos olhos dela por outro homem. Não é mais por ele. Não será como foi tempos atrás. E ele gemeu uma dor contida em sua mente. Ele chorou, e da sua dor só ele podia falar. Mas ele não falou. E tudo ficou do jeito que era pra ser. No final, se despediram, e tudo permaneceu como tudo começou. Cada um na sua vida, cada um na sua escolha. Errada ou não. Colhem-se efeitos, vivenciam-se situações. A vida é essa, sem nenhuma carta coringa.

P.S

terça-feira, 22 de setembro de 2015

À sua espera


O beijo veio naquele silêncio que surgiu logo depois do tapa na sua cara. O fogo logo cedeu, e no meu corpo vi sua tara. As mãos e os pés, confundidos em um trêmulo momento. Arrepio que subiu em nosso beijar. Aquele contato, que antecedeu o ato. As palavras, insuficientes. Supérfluas. Desgastantes. Tudo era pouco perto do insano desejo que cresceu em nós. O tempo que encurtou, e aqueles segundos que duraram horas, não saem do meu pensamento.Revivendo nosso beijo ainda estou. Não o vi desde ontem, e a saudade começa a latejar. Você segurava minha cabeça, e descia o polegar. O mundo subia, e o chão era o meu ar. Gostei do que dissestes, que não se importaria em ficar. Espero que ligue logo, esse anseio me deixa assim. Feito uma inocente. Desesperada. Não me importo em esperar você, enfim.

P.S 

Ninguém leu


Com tanta coisa acontecendo, esqueci de mim.
Auroras boreais, flores silvestres
A cor daqueles olhos, o mar refletindo assim.
Escrever no céu da boca.
Sussurrar.
Equilibrar um senso antigo.
Os corpos que não mais se uniram.
Sensações invertidas, e a pele.
A pele que quer suar.
Um gosto antes doce.
A textura da língua de outrora.
Um livro de capa dura.
As páginas já amareladas.
O mofo do armário limpo.
Os nós do cabelo amarrado.
Um querer silencioso.
E o tempo de calar.
São partículas que me incorporam.
Dessa matéria me fiz eu.
Na completude do íntimo,
Das coisas que passam,
Lembrei do que era meu.
Da fruta que mordi,
Do sangue que desceu.
O beijo que afogou,
As poesias que ninguém leu.

P.S

Das dores que não contei



Ela faz o melhor miojo que já provei em 25 anos. E toda vez que ela solta o cabelo preso, após uma ducha, aquele cheiro fica no ar e eu sonho. Sonho que talvez eu deixe de ser um completo babaca, e evite coisas pequenas que são capazes de destruir coisas grandes como essa. Sonho que ela veja em mim um homem suficiente, alguém pra quem ela corre, por quem ela chora, aquele alguém especial. Todo mundo tem alguém assim, quem me dera se o dela fosse eu. Logo eu, mal consigo ficar em um emprego durante um ano. Sabe, ela é maravilhosa. Aquele sorriso, aqueles lábios, e os olhos... São duas esmeraldas que cintilam para ele. Esqueci, sou apenas mais alguém. Um dia ela achou que seria legal me convidar pra sair, eu fui. Eu to saindo com ela, mas ela não está mais tanto assim. Ela vem aqui em casa de vez em quando. Já estou a esquecendo, mas ela volta e todo aquele redemoinho de confusos "eu te amo" voltam. Depois de mais um dia chato no trabalho, chegar em casa e saber que ela está me esperando, isso é um sonho. Sonhar me tira o sono. Não aguento mais essa incerteza, de ir e vim. Ou ela fica, ou eu vou embora. Mas volto, quando ela ligar pra mim.

P.S

domingo, 20 de setembro de 2015

Planos

Existem milhares de palavras, sabe.
Nenhuma ainda descreveu isso aqui.
Sabe, quando o peito padece
De tanto amar, de tanto querer?
Sabe, quando anoitece
E minhas mãos procuram
O toque que vem de você?
É assim, o sentimento.
A felicidade em sentir o amor.
Tudo vira desespero
Se você não está por perto.
Quero pular as etapas.
Minha ânsia só aumenta.
Meu desejo me escraviza.
E isso me sustenta.
Ao mesmo tempo que suaviza.
Quero logo estar contigo.
Em noites, em tardes nubladas.
Em casas na fazenda.
Em alpes, em morros, nas estradas.
Só nós dois, em qualquer lugar.
Diante do que me consome,
As palavras são poucas.
E o desejo, interminável.
Ah, quero levar o teu sobrenome.
E despreocupada, andar de mãos dadas.
Planejar as festas, os encontros em família.
Quero um futuro ao seu lado, agora.
E acabar de uma vez com essa agonia...

P.S

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Miudeza


Aquele seu enorme prazer de me ver caída, jogada, iludida, não o terás.
Ah, e aqueles livros que eu te dei, devolva-me.
Entregue aquele disco, daquele cantor, com aquela canção.
Não pense por um segundo que me tinhas, eu me tive.
Até aquele momento que disse que não mais me queria.
E fui-me, sumi da vida desse que um dia amei.
O resto pode ficar.
Sobrou pouco daquela sombra que chamavas, amor.
E as lágrimas, secaram todas no dia fatídico do luto.
Ainda luto, mas a cena não foi embora.
Somente eu, que tenho a sensação
Que já vou tarde, por hora...

P.S

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Pseudônimo do amor



Ele chegou muito perto dessa vez, antes de tropeçar nas palavras, sorriu e acenou. Ela não viu, mas ele corou, e decorou tudo que estava prestes a dizer, mas não foi dessa vez. Ela não reparou nas vezes que ele a protegeu, quando todos diziam que ela não passava de mais uma garota mimada, ele a defendia e dizia sem hesitar que ela era fantástica no que fazia. Ele sabia, ela tinha aulas particulares de segunda à sexta, mas forjava estar doente para não frequentar. Ao invés disso saía com amigos, totalmente fora do ciclo que ele podia imaginar em conversar. Ela fazia mais o tipo popular, mas ainda o olhava e retribuía os acenos e os bom dias que ele gaguejava. Ele fazia mais o tipo tímido, mas não nerd, ele tirava alguns dez, mas a maioria era nove ou sete. Ele falava sobre coisas como o sistema solar, e de como tudo que ela usava parecia ter sido feito sob medida. E ela frequentava a academia, mas escrevia poemas e publicava usando um pseudônimo. Como ele sabia? Ele a viu escrevendo debaixo de uma árvore um dia, e aquela visão o deixou curioso e encantado. Aquela menina que agora ele estava apaixonado, quase soube de verdade o que ele sentia. Quase, mas não dessa vez. Ele não conseguiu iniciar um diálogo, mas ele treinava todo santo dia. Sonhava com aqueles cachos dourados, e a pinta que ela tinha perto dos lábios. Imaginar falar de todo aquele sentimento o deixava em agonia. Mas quem sabe um dia ele teria coragem. Pensou em escrever uma carta, mas achou muito piegas. Arriscou uma canção, mas ainda sim achou brega. Então, decidiu entrar no blog dela, e foi comentando em cada poema, em cada desabafo daquela escritora. Ela foi correspondendo, e quando viram estavam se entendendo de uma forma inspiradora. Ele prometeu dizer quem era, se ela também quisesse mostrar sua real identidade. Ela parecia confusa, estava tão segura que estava sendo ela de verdade. O anonimato dos dois foi desfeito em um encontro no parque do bairro "tal". Ele não sabia como reagir, mas ela o olhava com um ar de surpresa e desaprovação. Então quebrou o silêncio, dizendo seu nome e que era dela o seu coração. Ela abriu para ele um sorriso tímido, o qual jamais tinha visto e era mais outra coisa pelo que se encantar. Ela disse que sabia seu nome, e que há muito tempo esperava para ele se apresentar. Na cabeça dele, ela jamais o esperaria, jamais saberia quem seria o "fulano de tal". Mas na cabeça dela, ela aguardara o dia para dizer olhando em seus olhos, que não imaginava a sorte que tivera. E ela era tão dele, quanto ele era dela. O amor tem dessas coisas, e eles dois souberam que se têm o melhor quando se espera. Agora o dia chegou, e ele disse o que tanto clamava o seu coração, e ela repetia que o amava, mas que tinha temor da desaprovação. Eles riram juntos, e o som de suas risadas ecoaram nos poemas dela. Ele finalmente provou do gosto daquela boca, que por horas imaginou a sensação, e que agora nada chegaria perto de tamanha emoção. Os dois seguiram juntos, de mãos dadas até a livraria mais próxima, onde ele jurou um dia comprar o primeiro exemplar do livro de sua poetisa amada. E os planos foram surgindo, alguns sonhos e viagens à vista, e o amor saiu da sombra, a paixão ganhou cor e neles se faz viva.

P.S

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Além da vida



No rádio uma música qualquer, a melodia envolvia os corpos nus no sofá, aquilo era mais um sábado normal. Ela não sabia que ao sair daquele apartamento, não mais o veria. Foi atravessar a rua, pensamento longe, certamente nele, e pimba!
Ela o viu de cima, ele estava atordoado, debruçado em um corpo inerte no chão. Ele gritava, ela não o entendia, mas sabia que estava em prantos. Olhou fixamente aquele corpo deitado, era ela. Mas como?
Demorou dias, meses e anos. Ele não era mais o mesmo. Antes um jovem rapaz sorridente, e agora não sorri mais, não é tão jovem assim.
Outra noite jurou tê-la visto, usava o mesmo vestido florido daquele dia infeliz. Lembrou de como ela era linda, e de como suas covinhas eram charmosas. Ela o olhava, e seu olhar dizia que tudo ficaria bem, mas ele não queria viver sem ela.
Na mesma noite saiu do apartamento, nos olhos lágrimas amargas, que secavam com o vento que envolvia aquele temporal de outubro. Pensando nela, e em como tudo deveria ter sido, e outra vez pimba!
Profundo foi seu sono. Acordado, viu a sentada ao seu lado, ela o encarava preocupada. Suas mãos coladas, e ele sussurrou que a amava. Ela sorriu e correspondeu com suas lágrimas, um beijo doce lhe deu, e juntos viveram o outro lado da estrada.

P.S

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Choices


"Se não quer demorar, não finja.
Se não quer gemer, não forje.
Se não quer apanhar, não incite.
Se não quer fazer, não amole.
Se não me quer, não me iluda.
Não demonstre e depois suma.
Não acende a fagulha,
Caso tenha medo de se queimar.
A vida é feita de escolhas.
Não me olhas.
E só não sinta.
Dói demais não fingir te amar."

P.S.
                      

Start


Eu vejo flores.
Mas você poderá ver folhas secas.
Meus olhos sorriem.
Os teus repudiam.
Clareza e leveza.
Dureza e escuridão.
Ela está enganada, dizes.
Sorrindo discordo.
Podemos não concordar com tudo.
E tudo bem, não concordar é normal.
Anormal é denegrir.
Vejo experiência.
Podes ver um fim,
Mas é o começo para mim.
É tudo um começo para nós.

P.S.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Ciclo do sol


O sol girou em mim.
Outra vez, ensolarada.
As cores centilaram em meus olhos.
Castanhos, eu vi.
O meu cabelo escovei.
As mesmas pessoas ali.
Talvez um pouco mais tarde.
Ou cedo, quem sabe.
Ele, sim.
Agradeci à Ele.
Meu mais novo ciclo abriu-se.
Outra vez, e de novo.
Devo à Ele meu sorriso.
E o sol que me vestiu.
Sou um brilho no infinito.
Dos meus números contados.

A.F.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Estado vegetativo do amor


Você não me retornou as chamadas.
Apagou meu número, e esqueceu de mim.
Todas as mensagens, à toa...
Insistência inútil essa minha!
Acreditei que fosse meu.
Acreditei em uma historia que criei.
Noites mal dormidas, até emagreci.
Nenhum sinal de que você esteve aqui.
Nada prova que um dia fomos um.
Acho que foi um sonho ruim.
Uma desventura fulminante.
Mas por meio das dúvidas,
Deixo o celular ao lado da cama.
Fingindo me desfazer de você
Mas ansiosa por sua ligação.
Um sinal de fumaça, uma carta que for.
Alguma coisa que me faça sair desse torpor.
Do estado vegetativo do amor.

A.F

terça-feira, 21 de julho de 2015

Olhar para você


Olhar para você
É como subir e não descer.
Planar e não cair.
Sentir seu olhar e sorrir.
É um convite indecente.
Expor meus sonhos e de repente,
Sonhar com nosso amor.
Deitados na rede e
Em pleno luar, fazer amor.
É escrever uma canção.
Ser incapaz de lhe dizer não.
Correr apenas em sua direção.
Jogar-me inteira em suas mãos.
É como assoviar o canto dos pássaros.
Estar sem fôlego, em palpitação.
Para sempre me perder em seus braços.
Cobrir-me de uma intensa satisfação.

A.F.

Escribir Nina


Escrever é mais fácil que falar.
E sou a prova do que venho recitando.
Peguei essas folhas e me expus.
Milhares de vezes em vinte anos.
Tudo que sentia, ou aquilo que acreditava.
Foram emoldurados em folhas de papel.
Para alguns um hobby.
Para nós uma fuga, um suspirar.
Escrever ao invés de falar.
É que as palavras se acanham na língua.
Mas como são desinibidas nos versos!
E resta essa amostra gratuita de mim.
Um ser inconstante e imperfeito.
Já caíram tantas lágrimas,
Por outro lado o coração aqui se rendeu.
E nessa de escrever e me calar, seguirei.
Pronta pra poesia.
Nem tanto, ou quemsabe um talvez sim.
Nunca disse que seria fácil,
Mas gosto de desafios...


Obrigada por lerem até aqui. 😘

A.F.

Seguimento


Eles mal se viram.
E a lua percebeu um acelerar de batimentos.
Suas pupilas alertaram.
Vacilaram.
Por segundos recordaram.
O frio que queimava como antes.
Aquela música antiga.
E eles sorriram.
Seguiram.
Cada um para o seu lado.
Isso é o fim de fato.

A.F.

Passageiro


Daqui posso assistir o mundo.
As pessoas e suas manias estranhas.
Ora, daqui te vi chegando.
Não evitei mesmo não notando.
De repente senti que não viveria,
Consciente do desejo em ti.
Tentei manobras e guias,
Caminhos que me levassem à ti.
Pra onde olho sou tarde fria.
E lá fora você quente sorri.
Essa onda em mim se agita.
E como grita a vontade em si.
Resolvi desistir em dia,
De noite me fecho e posso partir.
Mais difícil que te amar um dia,
É ter a vida distante de ti.


A.F.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

É o começo


Espero que esse não seja o último texto, ainda tenho um livro pra escrever sobre você. Falar sobre a nossa estranha mania de pensar igual, e se olhar rindo sem nada dizer. Sabemos. De andar ao seu lado na rua, e procurar seus olhos, que estão em frente, protegendo os meus passos. Quero falar da sua mania de me irritar, e depois dizer que tenho razão, e que me ama tanto que mal consegue falar. De olhar em sua cara aquela expressão de alegria, de sentir todo dia que o que mais quero é você.
Não pode ser o último verso que digo e repito a mesma história, dos dias nublados que ficaram tão bonitos com você ao meu lado. E não tem como não dizer da imensa agonia de não te ver sequer um dia, se virei uma viciada de você. Somos o que nos preenche, você o pão, e eu a manteiga quente, derretendo em sua boca. Você a taça e eu o vinho, descendo devagarinho, entorpercendo nosso querer. Como dois pardais, que sabem para onde voam, e não se perdem. Regressando pro ponto de partida, encontrando o caminho do lar. Dois que logo serão três, ou quatro quem saberá? Apenas feito de amor, destinados a se amar.
Não, isso é o começo do que podemos chamar de romance, do que apelidamos de lance, do que sentimos ser o nosso eternizar.

A.F.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Muda


Estás cansado, e seu olhar o acusa.
Não aguentas a palavra que te julga.
De verdades que contradizem coisas tuas.
Despido em noite fria, só de lua.
Sabes que mentira não perpetua.
Debaixo dos lençóis a carne crua.
E os andares que perambulam na tua rua.
Não são meus, são de mártires,
São de pretéritos, são das loucuras.
Bater na porta e receber a carência mútua.
Romper os laços e garantir a  antiga frescura.
De cultivar raízes no lugar das mudas.
De não ouvir a verdade surda.

A.F.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Particular infinito


Quando suas mãos tocaram nas minhas, estremeci.
Levei um tempo para raciocinar.
O ar que devia estar em mim, sumiu.
E ficou em meus pêlos aquele arrepio.
De vez em quando olho seu andar.
Vindo em minha direção, é meu calmar.
E o fogo que eu senti, me fez um bem danado.
Queria ir embora contigo dali.
Viajar em outros espaços.
A minha pele gritava em contato da sua.
E mordendo seus lábios,
Descobri e beijei a nuca tua.
Imaginando que fosse bom,
Perder mil horas contigo.
Querendo desesperadamente,
Ser teu particular infinito.

A.F.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Minha


Além de água na boca
Dei-me um gole de vinho tinto.
Sente e ouça desse vinil.
A voz masculina não o quer.
Fale sobre como não sentir o mesmo.
Das andanças e dos poemas.
Daquelas noites e dos pedidos.
Recorde do anel que já empenhei.
Não tente descer o vestido.
Já não sou sua.
Apenas deleite-se da companhia.
Da mulher que teves um dia.
O sal nos adoçou outrora.
Falamos de amor sem saber conjugar.
Agora é tão fácil rir de tudo.
Sentar ao seu lado. Te olhar.
Não me afeta nem um pouco.
Sei do passado e desse jantar.
Ainda o desejo, mas não passa disso.
Fugazmente passará.
Por isso, dei-me goles de prazer,
Amanhã nada disso mal me fará.
Acordarei minha,
Sem você no meu lugar.

A.F.

Um devaneio


Levemente me olhas,
Molhando os lábios em brasa.
Suas mãos fecham a porta,
Na pele desliza a toalha.
Os números do relógio estão confusos?
Ou de fato são meus sentidos que evaporam,
Quando sua língua invadiu de mansinho...
O tempo parecia um só.
Na surdina ouvia-se um gemido.
O suor aromatizava seu corpo nu.
Mais belo quadro já visto.
Você e seu quarto azul.
Passaria ali vinte horas do dia.
O resto usaria para descansar.
Cada músculo meu já sabia,
Do momento de não cessar.
Uma espécie de poesia,
Carregada, montada e escancarada.
Senti teu gosto no ar.
Sorria e permitia,
Do amor, sem amor, até despertar.

A.F.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Segundos

No relógio o ponteiro o acusa.
Demorou tanto tempo.
Quando ele era ao nosso favor,
Você ignorou.
E meu coração está tão atrasado.
Tão manchado pela chuva.
Essa que cai dentro de mim.
Estou no mesmo lugar.
E você ainda não chegou.
O caminho é o mesmo.
Não mudei.
Mas você mudou.
Veja, ainda não desisti.
Latente meu peito me acusa.
Ansioso como os ponteiros do relógio.
Ao te esperar lembro daquele dia.
Quando viemos aqui.
Você sabia de cór.
E agora parece ter esquecido.
Não se engane, sei mais do que você.
E vou te conhecendo em cada segundo.
Por falar em segundo, olho pro tempo passando,
Mas nada, nada de você.
No fim vou me conformando.
Sigo nessa insensatez.
Perdendo e ganhando.
E não é a primeira vez.

A.F.

terça-feira, 17 de março de 2015

O que era pra ser amor


Eu sei que as palavras são marcas.
E que o amor agregado à elas, faz mais sentido.
Dá-se ritmo, e deixa os olhos marejados.
Naquela noite de domingo, não era pra ter dito aquilo.
Senti que merecidas ouvir as minhas mentiras.
Quão estúpida fui, e lembro agora da sua feição.
Parecia não querer ter vivido pra ouvir aquilo.
Como meras palavras podem juntar,
Também podem terminar um amor.
E o nosso se desfez, junto com as lágrimas que escondi.
Se pudesse voltar, faria diferente.
Não depositaria minhas frustrações em ti.
Tão pouco o obrigaria a fazer parte desse fim.
Escrever agora, depois que tudo se ajeitou,
Me parece mais honesto.
Os segundos de raiva foram capazes de findar um sentimento.
Mas pelo resto da vida, não esquecerei a dor.
Ela será minha companhia.
Ela, e as palavras frias que me acusam.
Revelando a minha culpa do fim desse que era pra ser o amor.

A.F.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Au au



Já os vejo correndo pela sala.
O modo como nos encararão.
Aquela vontade imensa de apertar todos eles.
E as broncas, sem um pingo de vontade, que daremos.
Eles farão dengos, e seremos babões sem solução.
Dois apaixonados, por nossos cãezinhos de estimação.
Que logo, logo crescerão.
Sentiremos saudades dos tempos de filhote.
Eles continuarão dando trabalho.
Mas, o amor incondicional tornará tudo um prazer.
Quero pensar em nomes legais.
Adotar ou comprar, planejaremos.
Depois de você, estou ainda mais envolvida.
Aqueles olhinhos, o rabinho balançando, e os latidos...
Já os vejo derrubando tudo.
Mas também transformando nosso cantinho, em um lar de verdade.
Como é gostoso saber que terei você comigo.
Que foi através de você que passei a amar mais, me dedicar mais, ter vontade de criar animais.
Que são de fato os melhores amigos.
Logo seremos três, eu, você e o nosso cãozinho chinês. (Haha)

A.F.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Antipoético



Ela tinha um hálito insípido.
Uns trocados, algumas coisas banais.
O seu quarto era seu abrigo.
Ela observava o mundo lá fora.
Tudo era muito bonito.
Mas ela tinha medo.
E se trancava, se escondia.
Ouvia os ruídos do progresso.
Mas debaixo da coberta não saía.
Por isso não tinha ideia.
Não fazia ideia do que perdia.
Se mantinha presa em seu colchão.
E um dia, olhou e o viu.
Por um segundo pensou em sair.
Encorajada pelo calor que emanava de seu corpo.
Mas aquilo, depois de três dias, sumiu.
E ela o perdeu de vista.
Repousou no travesseiro.
E coçou o queixo.
Bocejou e sorriu.
Imaginando que por um tolo devaneio,
Deixaria seu mundo inteiro.
Encolheu os pés, e dormiu.

A.F.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Rimas saudosas


Saudades de escrever.
De lêr nos seus olhos aquilo.
O doce que ainda sinto na língua.
Aquela estranha sensação de cair.
E nas suas mãos as minhas.
Saudades de escrever.
De te lêr e continuar buscando mais.
Como um livro que não termina.
É o amor que me faz ser assim.
Você escreveu em mim.
E já não posso evitar.
Que estou apavorada,
Continuamente apaixonada.
Envolvida.
Nas linhas do seu corpo.
E na saudade que me domina.
Invasora e destemida.
Uma saudade doída.
De escrever e ser as suas rimas.

A.F.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Virgindade


Aquela menina não sabia, mas o mundo gira um dia. Ela colocou um vestido florido, saiu e não avisou nada para ninguém. Ela só foi, e seu objetivo era o mesmo de sempre. Grana rápida, fácil, sem compromisso, despretenciosa. Não importava como, ela só queria aquilo. Tinha um sorriso de fada, nos olhos uma sereia e seu corpo tinha uma espécie de veneno, onde poucos poderiam tocar. Milhares de dólares, e ela subia no carro. Aqueles brincos esmeraldados, e ela descia do salto. Uma mansão de frente pro mar, e ela aceitava ser chamada de todos os nomes que se possa imaginar. Não, ela não era prostituta. Ela era algo pior. Ela não se amava. Ele era uma ladra de amor alheio. A atenção dos outros a satisfazia. Ela não sabia, e assim levava. E naquela noite em mais um quarto diferente, algo bem no fundo a fez estremecer. Era um bilhete amassado, com letras quase apagadas, e nos dizeres algo sobre tê-la esperado, mas ela nunca voltou. E a dor, a dor de não ter tido o gosto daquele momento, a esperança que lhe foi arrancada, igualmente suas vestes de flores, a deixou em coma. No seu mais profundo suspiro ela o via, agora com outra, com filhos e manhãs de domingos no parque. As lágrimas caiam, e um aperto a fez soluçar. Queria gritar, culpar alguém, mas ela sabia que quem segurava aquele antigo aviso era a maior das culpadas. Guardou seu consolo de um sonho bom, uma recordação sofrida, porém a única dor que a mantinha aquecida. Foi até o espelho e pintou os olhos, jogou um pó por sobre as lágrimas, e guardou o dinheiro conquistado. Sorriu por um segundo, e pensou em como ela era a pessoa mais infeliz do mundo. Trancou a porta do peito, e voltou pra vida que havia escolhido. Subiu no salto, saiu ajeitando em seu belo corpo aquele maldito vestido.

Casal perfeito


Foi fácil me aproximar de você, forçar um engano, e dizer que pensava ter sido alguém. Foi a maneira mais acessível de falar com você. De início não notei o seu descaso, e pensei ter um nome para aquilo. Fomos dois atraídos. Ambos com seus interesses. Mas nenhum relacionamento que se preze vive de aparências. Você com seu jeito de afirmar ideias, onde meus pés não tocavam. E meus sonhos que não incluiam os seus ideais. Criamos um mundo só nosso. Não, não necessariamente juntos. Você não se importava comigo, e eu sabia, mas fingia. Desde o início uma atriz. Me enganei em um plano que não incluia o amor. Era apenas dinheiro, conforto e aparência. Sempre aparência. Elegantemente nos despedimos naquela manhã, e seus olhos sabiam que não tínhamos nos permitido, desde o início. E meu coração não palpitou, e eu nem sequer consegui fingir uma dor. Foi aí que rimos, no fim, somente no fim fomos sinceros com nossos sentimentos. E pela primeira vez, rimos com sinceridade, e entedemos que no amor não existe um caso, algo ensaiado. O acaso deveria ter nos seduzido,ao invés disso nos vestimos de casal perfeito, se nem soubemos o que era amar e saber receber.