segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Por hora

Trago que é pra passar o tempo,
E meu pulmão agradece a morte lenta.
Dispa-me que sou desprovida
Do desejo de ir embora; ainda não.
Preciso de mais do que me provaste.
Anseio por toques, beijos e olhares.
Respiração ofegante e nudez no sofá.
Quero suor, o cheiro e a sensação de voar.
Não me leve daqui, não me retire ainda.
Deixa que vou só, cheguei sozinha.
Sei me cuidar.
Apenas permita-se mais um gole,
Ainda não estou saciada.
Meu corpo geme e faz calar.
As estranhas extremas doçuras extrapolam.
São tantos os êxtases, o corpo não quer calar.
Depois na surdina, vou-me tranquila.
Escapulindo pela beirada.
Do jeito que você me quer.
Não é pra amanhã, é por hora.
E agora, me devora, sou o que quiser.

P.S

Dedicado à ela


Falar de saudade, dois copos sobre a mesa daquele bar, aquelas duas pessoas, as mesmas frases, o mesmo olhar. Monótomo, vagaroso semblante, dois vagos corpos, bocas fechadas, corações errantes.
Se é pulsátil, pulse entre nós, vem de retrátil, algoz.
Materiais são coisas imaturas, não desabrocharam, perderam o tempo, apodreceram no jardim. Prefiro teus sorrisos, as covinhas, os sibilos, as murmurias e aquele velho pano de cetim.
Enfeitarei os quadros imaginários, pintados em minha mente tão lúcida, tão louca, tão ardente! Que é pra fazer sentido à poesia, jovem senhora que dança, que gargalha e bebe a noite inteira. Mergulha nas idolatrias dos amantes, dos fracos, das viúvas e dos renegados. É filha da saudade, mãe do poeta. Dedico-te essa escrita, oh poesia! Menina remota de sons e aromas, de beijos e olhares, que somam, que somem com as dores dos lugares. Que enfeitiça o feiticeiro. Atiça os pelos, regojiza os doentes. Dá teu mel a quem precisa e plante o céu no peito que agoniza. Vê-se que é ela, poesia,  liberdade em forma de rima, verso e fantasia.

A.F.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Remember?


Pego papéis amassados, coloco-os no bolso da minha camisola, abro a porta e vou atrás de você. Saio pela rua, quase nua, quase. Saio perseguindo seus rastros, tentando disfarçar a ansiedade. Engulo o choro, seguro firme em meu bolso, garantindo que nada de lá escape. Nós não precisamos terminar assim. Você disse que seria pra sempre, remember?
Meus olhos marejados, a sensação estranha na espinha dorsal, o cérebro congelado e pouco sangue, pouco espasmo. Meu corpo não me reconhece, é muito difícil respirar sem doer. Quero te encontrar, dizer das promessas, das malditas promessas. Falar daquela vez, da outra, mas talvez você já tenha pegado um táxi, talvez você já tenha entrado em um ônibus, daí seria tudo em vão. A dor seria por nada.
Tropeço nos meus pés, e o chão é meu alvo, Estou com um pouco de dor na cabeça agora, talvez o molhado só seja um pouco de sangue, um pouco de lágrimas, muitas delas. E a ardência em meus cotovelos, e os lábios só um pouco inchados. Deixa eu passar, gemia com quem passava... Deixa eu passar, por favor! Berrrava.
E meus cabelos estavam ao vento, aquelas cabelos que você adorava sentir, remember? Os velhos grampos que você colocava para aquietá-los, as fitas e os laços. Ah, tempos bons do amor, das cores e dos sóis que iluminaram nosso quarto em dezembro.
Outra vez as luzes nas casas, e o pesadelo volta, volta e me revolta a sensação de nada poder fazer. É natal outra vez, alguns ousam dizer, mas pra mim é só mais um dia, quando você partia meu coração e partia de mim, longe e tão longe que não me ouviu berrar teu nome, remember?

...

A.F

domingo, 20 de dezembro de 2015

Quando ela me olha assim


Trouxe-lhe flores, aquelas que vimos ontem.
Percebi coisas, antes era cego.
Você ama tanto surpresas, resolvi voltar cedo.
Amei aquele bolo de cenoura que me fez.
Amei o doce mais doce do seu beijo de manhã.
E eu amo quando me olhas assim...
Era difícil me abrir.
Era complicado falar sobre amor.
Você chegou com esses olhos,
E era tarde demais para esconder.
Resolvi assumir essa paixão.
E hoje estamos juntos, mas eu esqueci coisas.
Não mais reconheci sua beleza,
E toda vez que você fazia o cabelo,
Passava horas naquele salão,
Eu não elogiava, não reparava.
Mas estou aqui pra dizer obrigado,
Por toda vez que ficou mais linda ainda do que é.
Por cada beijo sem eu pedir.
Por cada conselho sem me cobrar.
Por cada eu te amo que ouvir, sem nada dizer.
Desculpa por esquecer de te conquistar todo dia.
Desculpas, estou seriamente ferido.
Não acredito que deixei você pra ir com outros.
Troquei você por tardes em bar, e noites em baladas.
Troquei seu colo, por bebedeiras á toa.
Você é capaz de perdoar alguém assim?
Agora estou completamente atento aos detalhes.
Aqueles pormenores que você tanto falava.
Hoje entendo que o amor está neles.
Nas pequenas coisas, geradoras de atos grandes.
Engraçado, olhando você agora,
Sinto que vale à pena tudo.
Estou dispostos, você merece o melhor.
Você é aquela pessoa, aquela especial de uma vida inteira.
Não desiste de mim, serei diferente.
Terá de mim toda dedicação, todo amor do mundo.
Vem cá, encaixe seu corpo com o meu.
Nascemos pra isso, pra ficarmos juntinhos.
Ah, eu amo quando você me olhas assim...

P.S

Mais uma de adeus


Quando leres isso, já não vou estar aqui.
Então se atente nas coisas que não digo.
É importante para dar certo.
Ou pelo menos foi um dia.
Sei que já está com outra moça.
Ela é tudo aquilo que merece.
Eu nunca fui, quer saber,
Eu era sim.
Você não lutou por mim.
Pode dizer o que quiser.
Mas você não sabe lutar.
Sempre ficou ai, do jeito que veio.
Você não calçou luvas.
Não aprendeu artes maciais.
Não frequentou academia.
Não treinou, nem nada.
Ao contrário, cruzou os braços,
Deixou as coisas irem.
E olha onde está agora.
Do lado de alguém que não conhece você.
Você não sabe de nada.
Você sempre foi assim.
Mas é assim, só que as coisas giram.
Nossas conversas, melhor apagar.
Nada vale à pena.
Já estou de partida,
Da vida, dos sonhos, das dores que senti.
De tudo que lembre você.
Afinal, nunca fomos um casal.
Seja feliz ao lado de outra pessoa.
Não te desejo mal nenhum.
O amor não se alegra na dor alheia.
E essas coisas vão passar.
Sempre passam...

P.S

domingo, 6 de dezembro de 2015

Sobrancelhas


Sei que muitas vezes não sou o que esperava que eu fosse. Sei que sou muitas vezes o oposto do que pensas. Mas, só eu sei que pensar não leva às flores, e suponho que não entenda muitas vezes o que eu falo. Meu falar te confunde um bocado, e de pouco em pouco já não me entendes. As coisas andam meio rápido, mas é lento que se vence. Então pegue logo no meu braço, questione e se deixe questionar. Junta-nos em um abraço, e assim sei que podemos voar. As coisas não são só pelo seu fracasso, são os meus dias de neura, meus erros e pecados. São as luzes, as cores e os cadarços, são as penas, o vento e a calmaria plena. Redundância é meu embaraço, para dizer-te que não vou voltar atrás. Vale à pena. Mesmo não sendo entendida, sei dos teus motivos, e sabes das minhas teimosias. Nos conhecemos pelo traço, a sua sobrancelha me guia. As cordas do teu violão, os teus cachos, as poesias e todas as nossa manias. Não sou muitas vezes perfeita, mas sou o que um dia você dizia. Pensa o que quiser de mim, pois sou o que tu me cativas. Pensar é um mergulho no íntimo da fantasia, então vamos nos aprofundar todo dia. Prometo-te beijar na matina, e o mesmo à noite farei. Apenas não descanse só um dia, o amor não tira férias, eu sei.

P.S

My pain


Dias vazios, cheios de mim.
Sentia que podia, e no fundo me perdi.
Tomei do cálice, e o sabor amargou.
Não vou cuspir, vou ter que engolir
É tudo meu, só eu sei da minha dor.

P.S

Parcelar a dor


De repente você não estava mais aqui.
Apenas o seu cheiro senti,
Que de longe já esperava.
Você não mais se queixava.
Deixou de vir pro jantar.
Emendava uma ida à casa de amigos.
E eu ficava sentada, fingindo assistir tv.
Os dias passaram, e meu relógio quebrou.
Só ontem percebi.
Aquela parede rachada,
As vidraças, as cortinas que não compramos.
Fomos deixando ser, acontecer e morrer.
Está tudo morto aqui.
Não é culpa minha, nem de você.
Não soubemos amar,
E pagamos o preço.
Não dá pra parcelar a dor...

P.S