sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Trajes novos


Estou despida do meu passado. Daquele que vesti diversas vezes. Dessa vez não. Resolvi mudar o look. Estou sem nada. Fico melhor assim. Sem a remenda antiga ou o traje sujo. Melhor minha pele límpida. Tal qual minha consciência. Fiz o que pude, dei o que tinha e parei quando não obtive retorno. Não me impressionei com as marcas e os contornos. Me interessa hoje o conteúdo e não o pano. Quero algo que caiba perfeitamente no meu coração. No tamanho exato do meu querer. Quero vestir algo que me sirva, e que eu também sirva para ele. Que sejamos trajes novos, não mais retalhos. Que me sirva o dele, e que nele eu vire um belo agasalho. E em todas as estações tenhamos tecido e tempo de tecer. O amor é uma roupa confortável capaz de renovar-se e ajustar-se ao inteiror do querer.

A.F.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Solar


Depois de toda chuva que molhou minha janela, o sol chegou de mansinho. Ele tocou primeiro a vidraça ainda embaçada, e depois seguiu o rumo até os móveis do meu quarto. Finalmente aqueceu-me lentamente. A sensação dele em mim era boa. O sorriso do sol me iluminava até no escuro de todo meu coração machucado. Ele veio e ficou. Ele não pediu nada, só quis me acompanhar. Viramos dias e manhãs de outono. Formamos arco-íris, quando em mim a chuva era saudade. Foi assim que fomos nos tornando um. O sol e eu. Eu era um sol e mal sabia. Ele me mostrou. A luz sempre esteve em mim. Eu sou meu próprio sol. Quero iluminar outros dias amenos. Novas chances quero dar. Novos céus e alegrias despertar. Sou sol do meu céu à espera de um novo astro para amar.

A.F.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Putrefação de sentimentos


Espero que esteja satisfeito.
Estou em pedaços.
Não me restou nada.
Nenhum galho para me pendurar.
O vazio tomou meu peito.
Um tão avassalador.
Amargo e frio.
Deixou vestígios.
Suas palavras e os motivos.
Os milhares que não me deixam voltar.
Foi longe demais.
Jamais pensei que seria assim.
Se estou desse jeito.
Se há um buraco no meu peito.
Ele tem seu nome e
Os trejeitos.
As mentiras e seus efeitos.
É bem-feito pra mim.
Não deveria ter aceito.
Era pra ter ignorado,
Toda e qualquer desculpa,
Da sua aproximação repentina.
Agora cá estou, arrependida.
Maltrapilha das vestes de suas palavras.
Que me desampararam,
E nem sequer deixaram migalhas.
Você me matou por dentro.
E se tudo está apodrecendo,
É putrefação de sentimentos.
O que ainda restava e você destruiu.
Você conseguiu.
Espero que esteja satisfeito.

A.F.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Toda vez...


E toda vez que o ver,
Minha mão suará.
Serei sua.
A mente voará.
Imaginando nós.
Em qualquer lugar.
Dentro e fora
Do meu coração.
A vida sorrirá.
Os dias abrirão.
Fará sol.
Provarei do céu.
Cantarei esse amor
Com a minha voz rouca
De tanto gritar.
Era você.
Eu saberia reconhecer.
Mesmo na imensidão
De rostos iguais.
Você.
Tudo sucumbirá.
Só por você.
Até eu.
De tanto amar
Morrerei.
E se morre de amor?
Sim.
De amor aos poucos
Se nasce e desfalece.
Faleci.
Tanto prazer e agonia
Que me abraça e
Acaricia.
Dia e noite.
Noite e dia.


A.F.

Meu problema


Esse é o problema. Não sei ser de outro jeito. Sou assim. Nua e crua. Me exponho até a alma. Recito os versos que queria gritar para alguém. Sou inteira, não pela metade. Verdadeira. Eu mesma. Não consigo ser diferente. Sinto muito. Isso de falar à toa e fingir, definitivamente, não é comigo.

A.F.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

O vinho


Pegue uma taça.
Sirva-se.
Prove à gosto.
Deguste o prazer.
Sou suave.
Doce.
Sou perfumada.
Embriago.
Às vezes vicio.
Sou assim.
Vamos, beba-me.
Vagarosamente.
Sinta e desfrute.
Sou peculiar.
Um gole após o outro.
Você vai gostar.
Em seus lábios quero estar.
Vou inspirar reflexões.
Pensamentos mil.
Revelações.
Sou assim.
Uma experiência deliciosa.
Um delírio.
E quanto mais velha fico,
Melhor me dedico.
Sou tinto e seco também.
Sou do jeito que convém.
Uma poesia alcoolizada.
A bebida santificada.
Na sua língua a passear
Suavemente.
Envenenando o corpo,
A mente.
Enlouquecendo.
Ou companhia sendo.
Sou assim.
Prove-me agora.
Sou a sua resposta.
Pois, toda hora quero você em mim.

A.F.

Sufocado


Foi como pisar no vidro.
Provar do azedo da bala.
Encher a boca de comida,
E querer tossir enquanto fala.
Foi apertar a barriga.
Encher o pulmão de ar e não soltar.
Falar de tudo com ninguém.
Ser vazio e não poder se achar.
Estar perdido.
Sufocado.
Foi assim essa relação.
Não pude ser eu, e
Não pude ver você.
Embaçados pela cegueira da visão.
Foi um tiro no pé.
Foi aquilo que nunca se sabe.
Querer dizer e não entender.
Foi assim, eu, você e a saudade.
Saudade do que não vivemos.
Não provamos.
Não sentimos.
Saudade das vontades e verdades.
Por fim, partimos.
Não lutamos.
Nos deixamos vencer.
Restou só isso.
A dor de um dia ter amado você.


A.F.