Aquela menina não sabia, mas o mundo gira um dia. Ela colocou um vestido florido, saiu e não avisou nada para ninguém. Ela só foi, e seu objetivo era o mesmo de sempre. Grana rápida, fácil, sem compromisso, despretenciosa. Não importava como, ela só queria aquilo. Tinha um sorriso de fada, nos olhos uma sereia e seu corpo tinha uma espécie de veneno, onde poucos poderiam tocar. Milhares de dólares, e ela subia no carro. Aqueles brincos esmeraldados, e ela descia do salto. Uma mansão de frente pro mar, e ela aceitava ser chamada de todos os nomes que se possa imaginar. Não, ela não era prostituta. Ela era algo pior. Ela não se amava. Ele era uma ladra de amor alheio. A atenção dos outros a satisfazia. Ela não sabia, e assim levava. E naquela noite em mais um quarto diferente, algo bem no fundo a fez estremecer. Era um bilhete amassado, com letras quase apagadas, e nos dizeres algo sobre tê-la esperado, mas ela nunca voltou. E a dor, a dor de não ter tido o gosto daquele momento, a esperança que lhe foi arrancada, igualmente suas vestes de flores, a deixou em coma. No seu mais profundo suspiro ela o via, agora com outra, com filhos e manhãs de domingos no parque. As lágrimas caiam, e um aperto a fez soluçar. Queria gritar, culpar alguém, mas ela sabia que quem segurava aquele antigo aviso era a maior das culpadas. Guardou seu consolo de um sonho bom, uma recordação sofrida, porém a única dor que a mantinha aquecida. Foi até o espelho e pintou os olhos, jogou um pó por sobre as lágrimas, e guardou o dinheiro conquistado. Sorriu por um segundo, e pensou em como ela era a pessoa mais infeliz do mundo. Trancou a porta do peito, e voltou pra vida que havia escolhido. Subiu no salto, saiu ajeitando em seu belo corpo aquele maldito vestido.
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