sábado, 25 de junho de 2022

Sem nome


Durante muito tempo ela acreditou que era ela a culpada de toda merda que acontecia. Ela sentia que quando amava as pessoas as esquecia. Era fácil pra ela superar mais um fim, afinal, todo dia era assim. E ela fazia de tudo pra melhorar, pra tentar ser diferente e ocultava sua essência pra ser alguém que não era. Só pra fazer alguém ficar. Só pra ter com quem contar. Ela não tinha ninguém. E no final, ela não tinha nem ela. E isso doía ainda mais. E ela não pedia muito só uma noite de sono e paz. Ela sorria mas por dentro chorava sangue. Aquilo que ela remoía não tinha nome. E a dor de se culpar por algo que não é sua culpa é imensurável. Ela não tinha referências. Ela só sabia sofrer e se machucar. Até que tudo passou. A tristeza. As lágrimas. A dor. Veio o silêncio. E até hoje ela nunca mais falou. Nem bem, nem mal. Ela apenas deixou de ser por culpa de tentar ser quem nunca foi.

A.F.


Amou-se


Incrivelmente madura.
A imagem explícita dela.
Jovem mas com um olhar tão vivido.
Certamente ela viveu tanto.
Amou.
Chorou.
Morreu e nasceu.
Como uma rosa selvagem.
Ela sobreviveu.
E hoje me conta sua dor
Com um sorriso melancólico na cara.
Alma rara que o seu melhor deu.
Ele não a mereceu.
Ela se pertence.
E agora se rende ao seu eu.

A.F.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

A flor



Era uma flor, diziam.
Como toda flor tinha raízes.
Mas ela queria asas.
Como flor que era tinha caule.
Mas ela queria escadas.
Uma flor pequena, frágil.
Era vermelha.
Cor forte, selvagem.
Queria ela se sentir assim.
Livre do jardim.
Ela queria ir além.
Tinha espinhos também.
Queria ferir, queria sentir.
Ela queria fazer sangrar.
Queria ser tanto.
Mas ela era só uma flor.
Diziam que ela deveria agradecer.
Toda flor é um presente da natureza.
Mas ela se sentia indiferente.
Queria ser mais do que era.
Queria o diferente.
Fugir do padrão.
Escapar dessa prisão.
Queria ser muito maior.
Não uma flor simplesmente.
Mas uma colina, uma montanha.
Ela queria ver tudo de cima.
Não seria pisada.
Não se resumiria em graça.
Ela seria a própria desgraça.
Capaz de tudo.
Pela sua liberdade.
Pra ser dela.
Não mais entregue.
Ela se tomaria pra si.
Olharia no espelho e sorriria.
Seria o seu próprio jardim.
Não só mais uma entre muitas.
Ela seria sua.
E isso era o que fazia pulsar seu coração.

A.F.