quarta-feira, 18 de abril de 2018

Infortúnios


Teu toque arde ainda em mim.
Como se meu corpo só soubesse te reconhecer.
Tipo como antigos amantes
Dos livros que amo ler.
E quando se beijam,
O reencontro nos entorpece na expectativa.
Sentimos que o amor pode superar
O tempo, a distância, a própria ruína.
Assim que me sinto ao menor pensamento.
Mas assim como no livro,
Nada de fato é real.
Está tudo dentro de mim.
Frias e abrasadoras lembranças.
Que me são tão vivas.
Um tipo de prazer encontro nessa dor,
E provo do meu próprio veneno...
Não se pode matar o que não existe.
Mesmo que sejam desejos,
Infortúnios que me acalentam.
Vou vendo e vivendo nesse rebuliço
De amar o que não tenho, e
Recordar quem nunca me teve.

A.F.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

O tolo

Se fosse suficiente sentir.
Um toque que seja.
Um arfar.
O sussurro inebriante.
As gotículas do suor na pele.
O cheiro do calor emanado.
A lavanda do pós-banho.
Nem que seja no imaginário.
Seria suficiente, não seria?
Não.
De fato nada seria suficiente para mim.
Pois o amor exige mais.
Mesmo que meus lábios não o digam.
Apenas meus olhos que te fitam,
Enquanto almejo contigo falar.
E que o mundo inteiro saiba,
Da minha verdade guardada
Que nem desconfias.
Ou nem admitas, por fim.
Queria nem que fosse um sorrir.
Apreciar a leveza do ar que paira nela.
Jovial, pura, cândida, flor do meu jardim.
Imaginar que um dia a terei.
Nem que seja por um breve momento.
Para sanar a angústia desse sentimento.
Anos confinados dentro desses desejos.
Ela me tem como prisioneiro.
Mal sabes, a tola.
Ou seria eu o mais tolo dos tolos?
Sim.
Embriagado no beijo que nem provei.
Amaldiçoado no amor que nunca terei.

A.F.