terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Virgindade


Aquela menina não sabia, mas o mundo gira um dia. Ela colocou um vestido florido, saiu e não avisou nada para ninguém. Ela só foi, e seu objetivo era o mesmo de sempre. Grana rápida, fácil, sem compromisso, despretenciosa. Não importava como, ela só queria aquilo. Tinha um sorriso de fada, nos olhos uma sereia e seu corpo tinha uma espécie de veneno, onde poucos poderiam tocar. Milhares de dólares, e ela subia no carro. Aqueles brincos esmeraldados, e ela descia do salto. Uma mansão de frente pro mar, e ela aceitava ser chamada de todos os nomes que se possa imaginar. Não, ela não era prostituta. Ela era algo pior. Ela não se amava. Ele era uma ladra de amor alheio. A atenção dos outros a satisfazia. Ela não sabia, e assim levava. E naquela noite em mais um quarto diferente, algo bem no fundo a fez estremecer. Era um bilhete amassado, com letras quase apagadas, e nos dizeres algo sobre tê-la esperado, mas ela nunca voltou. E a dor, a dor de não ter tido o gosto daquele momento, a esperança que lhe foi arrancada, igualmente suas vestes de flores, a deixou em coma. No seu mais profundo suspiro ela o via, agora com outra, com filhos e manhãs de domingos no parque. As lágrimas caiam, e um aperto a fez soluçar. Queria gritar, culpar alguém, mas ela sabia que quem segurava aquele antigo aviso era a maior das culpadas. Guardou seu consolo de um sonho bom, uma recordação sofrida, porém a única dor que a mantinha aquecida. Foi até o espelho e pintou os olhos, jogou um pó por sobre as lágrimas, e guardou o dinheiro conquistado. Sorriu por um segundo, e pensou em como ela era a pessoa mais infeliz do mundo. Trancou a porta do peito, e voltou pra vida que havia escolhido. Subiu no salto, saiu ajeitando em seu belo corpo aquele maldito vestido.

Casal perfeito


Foi fácil me aproximar de você, forçar um engano, e dizer que pensava ter sido alguém. Foi a maneira mais acessível de falar com você. De início não notei o seu descaso, e pensei ter um nome para aquilo. Fomos dois atraídos. Ambos com seus interesses. Mas nenhum relacionamento que se preze vive de aparências. Você com seu jeito de afirmar ideias, onde meus pés não tocavam. E meus sonhos que não incluiam os seus ideais. Criamos um mundo só nosso. Não, não necessariamente juntos. Você não se importava comigo, e eu sabia, mas fingia. Desde o início uma atriz. Me enganei em um plano que não incluia o amor. Era apenas dinheiro, conforto e aparência. Sempre aparência. Elegantemente nos despedimos naquela manhã, e seus olhos sabiam que não tínhamos nos permitido, desde o início. E meu coração não palpitou, e eu nem sequer consegui fingir uma dor. Foi aí que rimos, no fim, somente no fim fomos sinceros com nossos sentimentos. E pela primeira vez, rimos com sinceridade, e entedemos que no amor não existe um caso, algo ensaiado. O acaso deveria ter nos seduzido,ao invés disso nos vestimos de casal perfeito, se nem soubemos o que era amar e saber receber.