segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Sem arrependimentos



Sem arrependimentos. Prometi que seria assim a partir de hoje. Decidi que não mais me lamentaria. Não mais. A vida é curta e eu preciso desfrutar de cada segundo dela. Essa passagem custou caro e eu não vou desperdiça-la. Não mais. Quero beber cada taça de vinho e planejar viagens que irei realizar. Quero que cada plano saia do papel a partir de agora. Não quero viver de teorias bonitas. Quero realidades sentidas. Boas ou ruins. Eu preciso sentir cada brisa. Quero enlouquecer de amor ou ódio. Não estou podendo exigir. Não mais. Decidi que serei assim, gostem ou não. Gozem ou não. Vou simplesmente rasgar meus vestidos velhos, não quero mais acumular coisas que não me servem. Não preciso mais perder tempo buscando algo que eu nunca soube o que era. Quero apenas sorrir e relaxar. Sofrer as consequências. Chorar e gargalhar. Conhecer novas pessoas. Dá um fim em ciclos tóxicos. Beber um gim e falar mal dos homens. Sair pra dançar e chegar comendo tudo que tiver na geladeira. Sem arrependimentos. Esse é meu mantra. Minha mais nova religião. Serei devota. Obediente. Não vou mais me sentir menos eu. Não vou mais me comparar . Não mais. Vou abrir meus braços e envolver em meu corpo. Cuidar de mim. Me ninar. Vou dizer que me amo. Vou mostrar que posso mais. Não irei mais me sabotar. Não mais. Nunca é tarde pra recomeçar, arriscar e ver que sua beleza é rara e que o grande amor da sua vida sempre esteve ali na sua frente, no seu reflexo. 


A.F.

domingo, 6 de dezembro de 2020

Início, meio e fim.

Sem querer te olhei.

E você me retribuiu o olhar.

Você me convidou pra dançar.

Suas mãos correram minhas costas.

A música no ar nos embriagava.

Ou era a fumaça.

Ou era a graça.

Sei que dancei.

A noite foi pequena.

Não foi suficiente pra nós dois.

Tive que pegar seu número.

No dia seguinte a gente marcou.

Jogamos conversa fora.

Nos revelamos.

Conectamos.

Como nunca o tinha feito.

Nos beijamos lentamente.

O mundo parou imediatamente.

E seguimos em frente.

Dias nos consumiram.

O calendário perdeu suas folhas.

As noites frias chegaram.

Os pensamentos profanos.

As cicatrizes.

As feridas.

A dor nos calou.

E a última lágrima caiu.

O amor nos deixou à sós.

Nos olhamos pela última vez.

Recordei a primeira.

Senti meu peito sangrar.

Engolimos o choro.

Não tinha mais o que chorar.

Nos despedimos.

Acabou.


A.F.

Entenda

Antes de tudo, não diga nada.
Não pensa que voltei.
Não foi por isso.
Foi por outros motivos.
Ainda vou inventar algum aqui.
Calma.
Alguém ainda vai aparecer.
Assim, talvez, você perceba.
Perdeu a mim. De vez. Pra sempre.
Então, não ouse pensar.
Nada aqui foi por ti.
Estou bem.
Feliz.
Completa.
Não preciso de você.
Não voltei pra recordar.
Não faz falta seu abraço.
O cheiro amadeirado no travesseiro ao lado.
Já esqueci do seu jeito.
Dos gostos peculiares.
Da sua mania boba de me irritar.
Não, eu não sonho contigo.
Nem choro.
Nada.
Apenas quis estar aqui.
Vim sem perceber.
Cheguei no seu endereço.
Chamei pelo interfone.
Foi o costume.
A rotina de meses atrás.
Foi só isso.
Entenda.

A.F.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Assédio nosso de cada dia

 Ele me encarou por um bom tempo. Não precisei olhar pra saber. Senti aquele olhar invasivo e nojento. Fiquei apavorada, mas não falei nada. Tentei não pensar muito. Não ia demorar. Logo estaria em casa. Não me preocupei. Ele não parou de me secar. Se mexeu ao meu lado. Sua perna tocou na minha. Me afastei. Estava nervosa, mas não reagi. Preferi me reprimir. Não era nada, pensei. O ônibus vazio, mas ele sentou ao meu lado. Pediu licença, sorriu. Cedi um espaço, ele passou e sentou. Desde então ficou me examinando, me encarando, me comendo com os olhos como um urubu sedento por lixo. Seu braço deslizou no meu, me afastei novamente. Eu já estava sentando quase na ponta do assento. Pigarriei, incomodada. Ele não pareceu se importar, na verdade estava gostando da situação. De repente soltou um "Você é muito bonita, sabia?". Congelei. Constrangida disse um obrigada baixinho, minha cabeça abaixada. Ele sorriu outra vez. O ônibus em movimento deu um freada brusca para não avançar no sinal vermelho. O corpo dele veio pro meu lado de imediato e ele tocou nos meus seios. Olhei assustada pra ele, dizendo "O que você pensa que está fazendo?". Ele respondeu que nada, que foi culpa do motorista, e se sentou no banco direito. Baixei a cabeça de novo, meu coração acelerado. Queria só chegar em casa. Queria só chegar em casa. Só isso. Me levantei e sentei do outro lado. Fui rápida, sem jeito. Sentei confortável na cadeira ao lado da janela. Agora estaria tudo bem, pensei. Olhei pro tal homem rapidamente, ele me encarava com raiva. Seu olhar era sinistro. Arrepiei. Se levantou e sentou do meu lado de novo, mas dessa vez sussurrou algo só pra mim: " Acho bom você ficar quietinha". Sua mão tocou a minha coxa. "Eu tenho uma coisa aqui, você vai se machucar se resistir". Meu peito esfriou, minha garganta secou, meu estômago doeu. Tremi por dentro. Estava apavorada. Por instinto me levantei. Gritei alto por ajuda. Ele arregalou os olhos, se levantou e foi andando pra trás do ônibus . Puxou a cordinha pra descer. Eu gritei de novo, uma senhora foi até mim. O ônibus parou, ele desceu. Eu comecei a chorar, a mulher nada entendeu. Ela me perguntava o que tinha acontecido, mas eu não conseguia responder. As lágrimas caiam, e eu me sentia sozinha. Desamparada. E esse foi só mais um dos inúmeros dias dos assédios que me rodeava.


A.F.

domingo, 1 de novembro de 2020

Trespass



O tiro que atingiu meu coração.
Com feição de anjo, beleza pura.
Chegou e pelo espelho pude enxergar,
A letalidade daquele seu olhar.
Parecia miragem.
Parecia amor.
Brilhando pra sempre em mim.
Você me cegou.
E eu me joguei e me afoguei.
Para encontrar você e te seguir.
Era a caça e o caçador.
Era intenso, rude, fatal.
Era só você e eu nessa fantasia.
Na nossa zona perigosa.
Fui atraída para sua água.
Enfeitiçada pela sua brisa.
Não que fosse totalmente inocente.
Deixei o medo de fora.
Mal comportada e sua, gemia.
Nesses sonhos que me perdia.
Acordei e percebi por fim,
Você não era um heroi 
Nem tão pouco vilão.
Você só era você.
O alguém que todo mundo quer ter.
Você esse meu alguém.
Que me abraça e diz amém.
Olha pro céu e sorri também.
Jura por nós que será pra sempre assim.
Doce voz que canta.
Diz que sou a sua inspiração.
Entre nós existe uma chama.
Magnetismo que nos atrai.
Desejo que inflama.
Não posso perder você.
Seria como me perder, afinal,
No meio da noite você me chama
Me beija, me ama
Dizendo que essa sensação é especial.
Afirmando o que temos de melhor.
Por sua causa a noite linda está.
Vejo você de novo e melhor.
A cada toque, a cada canção no ar.
Pouco me importo de começar do zero.
Vale à pena se é com você.
Você invadiu meu coração.
Não tenho mais nada à perder.

A.F.





Pensamentos nostálgicos



Estou deitada.
Cabeça à mil.
Pensamentos nostálgicos.
Voltei nos tempos azuis.
Quando brincava e sorria.
Acreditava em tudo.
Era inocente e não sabia.
Corria por entre as flores.
O aroma delas no meu vestido rosa.
A sensação de poder.
Continuar e não cansar as pernas.
Aquele calor dentro do peito.
Sentir que só basta viver.
E as cores passaram.
Os dias cinzas chegaram.
Levando com eles minha energia.
Minha inocência perdida.
As dúvidas e todas as perguntas.
Sentimento de que não podia mais.
Que era tarde.
Que a noite jaz.
E eu dormi antes das estrelas.
Meus olhos vermelhos.
As cartas no chão e sujas.
Meu batom vermelho.
A cortina encobrindo a luz.
Era tudo que eu sentia.
Que nada mais era igual.
Que eu não mais poderia amar.
E minha mente voa.
Deitada aqui.
Olhando pro teto.
As sombras ondulando na parede.
A vela acesa.
Ouvindo uma canção qualquer.
Pensando na vida.
Em tudo que ela foi um dia.
Em tudo que ela merecia ser.


A.F.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

E sou



Não, eu não desisti de encontrar alguém. Só percebi que não é isso que vai me fazer feliz. Posso ser extremamente feliz sozinha. E sou. Não preciso estar com alguém pra me sentir completa.

Levou tempo, mas acordei. Enxerguei em mim a melhor companhia, a força que basta e o amor próprio que me faltava.

Me olhei um belo dia e sorri para mim. Meu reflexo me fez sentir que só dependo de mim mesma. Tudo que antes pensava precisar, hoje vejo que não preciso.

Hoje sinto que sou livre. Não me saboto, não me iludo e não me diminuo. Tempos atrás acreditava em tanta mentira que hoje sinto de longe o que é verdade.

O doce aroma do bem-me-quero me lava a alma e posso finalmente desfilar com o meu melhor sorriso e ser fiel à mim e aos meus objetivos.

A meta daqui pra frente é me fazer feliz pra sempre. Caso alguém apareça nesse caminho e queira somar e dividir planos, ótimo. Hoje não é mais minha prioridade suprir carências.

Quero um amor que acrescente e não quebre galhos. Quero amar e ser amada sem precisar ocultar o meu eu forte e real que batalhei tanto pra enxergar.

A cada dia que passa vou confirmando que a vida é uma eterna escola, todo dia aprendendo, passando por provas e ensinando um pouco do que se vive.

Espero nunca esquecer daquilo tudo que me fez chegar aqui. Toda dor vai servir se lição pra cada degrau que já subi.


A.F.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Responsabilidade emocional


Não houve despedida. Acordei e você já não estava ali ao meu lado. Não deu tempo de sentir sua partida. Você tirou de mim essa chance. Não me preparei pro fim. Foi rápido. Frio. Insensível. Direto. Foi do jeito que você quis, não do meu. Ou talvez do nosso... Simplesmente aconteceu. Não tive como me preparar ou falar. Não tive a chance de dizer o que queria te dizer. Você arrancou o curativo sem dó e me deixou com a cicatriz aberta em sangue vivo. E eu não consegui me controlar e chorei tudo que senti. Tudo aquilo que não imaginava poder sentir. Qualquer coisa. Tudo era motivo pra mim. E se hoje posso olhar pra trás e encarar de frente minha dor é por mim, mais ninguém. Tive que lutar sozinha, aprender e erguer a cabeça. Tive que me valorizar e sorrir pro meu novo eu após nosso fim. Não digo que foi fácil, nem arrisco dizer que estou totalmente curada, mas a cada dia que passa vou me libertando e entendendo que nem todo mundo tem responsabilidade emocional e vai agir igual à mim. Não somos iguais. Não que precisemos ser, mas o mínimo deveria ser crucial. Um pouco mais de empatia e consideração. Meu peito cicatrizou finalmente, e sinto que agora estou pronta pra amar outro alguém novamente.


A.F.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Mais uma quando se têm decepção

...

Em noites como essa, prefiro me calar. Sou adepta da boa e velha reflexão. Sou mais ficar na minha. Pensando em tudo e em nada. Refletindo sobre o que aconteceu e o que está por vir. Me considero extrovertida na maioria das vezes, mas depois disso pode me considerar introvertida. Me sinto completamente outra. No reflexo enxergo alguém que foi traída. Enganada. Então, calo meu eu e abro espaço pra uma nova versão de mim. Achem boa ou ruim. Não permaneço mais a mesma de antes. É inevitável. Um turbilhão de sentimentos e pensamentos me invadem. É natural após o choque. Ninguém consegue olhar duas vezes pro mesmo lado depois de cair. Ou ser derrubada. Fico por um tris. Me sinto pequena, invisível e passada pra trás. O meu sorriso não é meu. A minha risada não é mais minha. Eu por inteira me sabotei. Estou sozinha dentro de mim e das minhas escolhas. A vida me abre um leque e preciso ter coragem de escolher e lidar com as consequências dos meus atos. Talvez simples, mas no fundo nem tanto. Esse momento é todo meu. É um lugar que não gosto de estar, mas às vezes preciso ficar. Em momentos assim, pego minha cara do chão e meu coração despedaçado e me encolho pra pensar na melhor forma de lidar com essa mais nova decepção. Antes de explodir e estragar tudo. Antes de jogar pro alto toda teoria bonita e reagir da forma mais primitiva e irracional do mundo.


A.F.


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Baixinha



Ela bate no meu peito, mesmo na ponta dos pés. Ela insiste nos saltos para desfilar e me deixar mais apaixonado, mas ainda assim ela não passa de mim. Ela é minha baixinha e eu o seu grandão. Ela não gosta quando brinco com sua altura, se irrita mas não me assusta. Às vezes fico olhando pra ela. Simplesmente admirando seu jeito meigo e feminino. Suas neuroses e seu mal humor. Onde ela mesmo brava não me dá medo nenhum, afinal, daquele tamanho dá vontade de abraçar ela toda e esconder de todo mal. Ela é boba. Ela é romântica. Ela tem um jeito único de ver a vida. Ela sorri pra mim e mesmo tão pequena me deixa menor do que ela. Sou insignificante quando se trata do amor dela. Ela pode tudo, enquanto eu não posso nada. Ela ganha fácil e eu entrego o jogo. Ela me rendeu quando encostou seu queixo no meu peito e olhando pra cima com seus olhos castanhos, disse que quer ser minha daqui pro resto da vida.


A.F.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Cabelos





Mergulhei nos seus fios.
Doce sereia, me afoguei sem pensar.
Não quis ser salvo.
Não sabia nadar.
Fluí na fluidez das tuas mechas.
Me embolei perdido.
Não me achei.
Só me encontrei no fim.
No meu fim.
Quando entendi.
Que queria seu perfume assim.
Seu toque e seu beijo.
O liso dos teus cabelos derramados no meu peito.
A doçura do teu canto.
A beleza que resplandece.
A certeza de que te amo.
Muito menos do que ontem,
Mais ainda que amanhã.
Me prendi pra não soltar.
Refém do seu jeito.
Me aquece com seu sorriso.
Me enlouquece com seu olhar.
Deixa eu pentear seus cabelos,
Deixa eu me embriagar.

A.F.


sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Pintas

 


Por sobre a pele.

A constelação mais linda.

Ela carrega suas marcas.

Ela embeleza seus traços.

Não que ela precise.

Ela simplesmente é bela.

Mas ela não se contenta.

Ela extrapola.

Ela vai além.

Deixa seus rastros.

As estrelas dela.

Ela carrega todas em si.

E seus olhos são o universo.

Ela é por inteira meu mundo.

Eu quero habitar nela.

Fazer morada.

Existir somente com ela.

Ela que me fez melhor.

Me tornou alguém.

Meu amor.

Minha vida.

E suas pintas são o caminho

Que quero seguir pra sempre...



A.F.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Enfim, a hipocrisia

Caindo me sinto.

Debaixo das minhas asas.

Perdendo o controle.

Por entre flores.

Chego ao meu fim.

E ninguém parece saber.

Ninguém sente o mesmo.

Estou sozinha.

Atrás de respostas.

Perdida.

Correndo agora.

Contra o tempo.

E lá fora chove.

Em mim sangra.

A mentira que me tornei.

O desejo que ocultei.

Sigo fluindo.

Sigo mentindo.

Pra mim.

Pra ele.

Pra nós.

E nunca houve um nós.

Muito menos um adeus.

É preciso chegar.

É necessário sair do lugar.

Eu nunca movi um dedo.

Menti.

Eu não me arrependo, enfim.

A hipocrisia era não sentir.

É mesmo assim, sorrir.


A.F.


sábado, 11 de julho de 2020

À ela

Um coração que não cabe no peito.
Serenidade no olhar de quem ama.
Além de amar, cuida e protege.
Serve e não pede nada em troca.
Às vezes derrama tão frouxamente suas frustrações.
Não é feita de ferro, por isso chora.
Dona de uma alma que ilumina
A vida de cada pessoa que toca.
Rainha do seu próprio caminho.
Cada passo uma lição, cada passo um ensino.
Ela se deixa ganhar e perder.
Entendeu o segredo da vida.
É leoa e sereia.
Ataca e seduz.
Domina e se deixa vencer.
Encanta com seus trejeitos.
Mas não mexa com os seus,
Ela sabe defender quando precisa.
Sabe calar e consentir também.
Encontra seu próprio equilíbrio.
Menina ao sorrir com os olhos,
Mulher ao olhar com seu coração.
Coração esse gigante.
Sempre cabe mais um para amar.
Está sempre disposta à ajudar.
Acolhe quem dela precisar.
Doce é seu canto, voz de anjo.
Deus permitiu-a possuir.
Para que através dela possam os outros
O carinho e a verdade sentir...

A.F.

terça-feira, 30 de junho de 2020

Sou uma longa historia


Eu sou uma longa historia.
Preciso de alguém disposto à ler.
Entender cada verso, cada vírgula.
Alguém que goste de dramas.
Que aprecie a arte da literatura.
Um livro sempre aberto, essa sou eu.
Um rascunho da minha versão.
A versão original dos meus rabiscos.
Uma poesia antes nunca recitada.
Versos que me traem.
Palavras que me desmentem.
Uma historia que vem sendo escrita minuciosamente.
E o leitor precisa querer continuar.
Estar livre pra mergulhar.
Se afogar e me salvar.
Alguém que possa me amar, me ler.
E me enxergar de um jeito que ainda ninguém foi capaz.


A.F.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Covardia


Pra onde eu deveria ir?
Estava tudo certo.
Nossos planos.
Nossas metas.
Nossos objetivos de vida.
Tudo certo.
Não tinha defeito.
Já estava feito.
Não tem como acabar assim.
Cada um seguindo em frente.
Cada qual com seu papel.
Malas feitas.
Cama separada.
Sem olhar nos olhos.
Sem sentir o afeto.
O beijo e o afago.
Os lábios jurando amor sem fim.
E findou!
Não, isso não faz sentido.
Você prometeu.
De joelhos me propôs eternidade.
E agora seguiu sem mim.
Sem nós.
Sem os planos.
Sem as metas.
Muito menos sem os objetivos.
Todos jogados fora pela janela.
Fui tirada de um sonho.
Arrancada do seu coração.
É covardia da tua parte.
Prometer o céu, o sol e toda a Terra.
Me deixando no frio dessa solidão.


A. F.

domingo, 21 de junho de 2020

O término do que não começou


Passei esse sábado todo pensando naquelas palavras. As últimas palavras que sairam da nossa boca. Não consegui comer direito. O meu filme preferido passou na tv, mas eu não quis assistir. Não tive vontade de nada. Não consegui, simplesmente. Pensei em tanta coisa. Minha mente foi ocupada por tantos pensamentos diferentes. Acreditei nas malditas mentiras? Ou são verdades que precisavam sair? Tudo não passou de uma historia que eu mesma escrevi. Minha criatividade foi tanta assim? Menti para mim mesma e estou aqui deitada e pensando sozinha? Você nunca se importou então. Você saiu e calou meu peito. As palavras ecoam ainda aqui. Elas me ferem toda vez que recordo da cena. Seus olhos opacos e meu peito apertado. O barulho da chuva e o clima frio. Não, éramos nós. Tudo era gelado e a gente pensava estar aquecidos? Qual a temperatura certa pra definir o clima do amor? Abaixo de quantos zeros está essa relação? É bem óbvio, na verdade. Falar é mais difícil. Expor tudo e arrancar essas feridas ainda me afetam. O mundo nunca fez sentido pra mim, mas quando você apareceu me deu vontade de viajar ele todo. De mãos dadas e olhando cada pôr-do-sol. As palavras voltam com força e esse tipo de sentimento nostálgico se afasta e vou perdendo as forças. Sou tomada pela dor que corta mais do que sua língua. Estou sangrando você não vê? Estou partida ao meio e não me parece certo ficar aqui e te esperar. Aguardar que uma hora dessas você perceba e sinta minha falta. Não, eu sei que não sente. Algum dia você sentiu? Será que alguma vez você me amou? Essa dúvida me corrói por completo e meu peito arde à cada batida e o sangue seca e me deixa dormente. E no fim nunca houve um nós e só um vazio que eu tentei preencher com sua companhia física. O que é real, verdadeiro e palpável não nos ocorreu. As palavras me consomem e já não sou mais nada, além de alguém que chora encolhida no sofá da sala e espera o inverno da consciência própria, ignorada por simples ambição de ter alguém que nunca foi seu.


A.F.

sábado, 20 de junho de 2020

Auto-desejo


Eu quero que seus dias sejam coloridos. Que você possa ver algo bom naquela situação ruim. Que alguma coisa possa valer à pena, mesmo que ninguém saiba ou apreciei essa sutileza. Quero que aprenda com os outros e consigo mesma. Que erre sem medo de errar. Que acerte e sinta-se bem, aliviada e confiante. Quero que olhe seu reflexo com admiração e respeito. Que saiba a hora de parar de insistir em algo ou alguém que não te enxerga como deveria. Que seus dias nunca percam o brilho. Que você tenha tempo de dizer as palavras que fazem falta no dia à dia. Que seus pensamentos sejam leves e seu coração transborde uma essência jamais esquecida. Que a vida te sorria e que você sorria para a vida. Que o milagre do amor recaia sobre seus dias. Que nenhuma dor dure pra sempre. E que todo dia você tenha a bênção de iluminar os lugares mais obscuros dentro ou fora do seu peito. 
A.F.

O mundo pode acabar



Meus lábios molhados.
Meu vestido no chão.
Nosso olhar conversando.
Fizemos um terremoto aqui.
Sua pele suada por cima da minha.
Você sorrindo pra mim.
Nossa conversa sem palavras.
A música tocando no quarto.
O clima perfeito.
Suas costas arranhadas.
Minhas pernas ainda fracas.
Nossa respiração em falta.
Um sopro de fôlego.
A cama é nosso altar agora.
O perfume da minha pele na sua.
A mistura dos nossos sabores.
Lentamente me levanto.
Pego o sutiã do abajur.
Você me segue.
Sua mente não mente.
Você é transparente.
Fácil de ler que me quer.
Ainda me quer ali.
Ainda quer me ouvir gemer.
Quer mais do que nunca quis.
Eu quero.
Não precisa pedir.
Eu já li tudo mesmo.
Sei do que precisa.
Do que ainda não sabe.
É muito fácil.
É a conexão mais forte.
Meu cabelo estou tentando prender.
Mas você chega e me abraça.
Você sussurra insaniedades.
Era tudo que eu precisava.
Jogo o broche pro ar.
Me seguras e me eleva.
Você me puxa pra mais perto.
Morde minha boca levemente.
Você me convence outra vez.
Estou atrasada, eu sei.
Mas não me importo.
Não olho pro relógio.
Que o tempo pare.
Por mim tudo pode explodir.
Só preciso do seu tato.
Nós no ato.
E o mundo pode finalmente acabar.

A.F.

terça-feira, 9 de junho de 2020

Meu lar


Mais um dia doze no calendário. Aqui dentro sinto que o inverno foi embora. Os dias passam e o desejo de ser sua pra sempre só aumenta. Foram dias tristes outrora. Antigamente costumava falar mal dos casais nas ruas. Dos presentes trocados nessa data. Besteira minha. Era inveja branca. Era dor de cotovelo. Nada é tão clichê e confortante. Nada é tão simbólico. O amor é essa coisa exagerada que todos cantam por aí. Amar é se entregar e não pensar em devolução. Estar apaixonado é um eterno sonho. Ninguém toca no chão. Estou no céu. Quando vejo seu sorriso, sou a imensidão azul. Quando nos beijamos sou brisa. A serenidade do seu olhar, o toque das suas mãos... Tudo que sempre esperei e agora posso provar. Posso desfrutar com prazer constante. Todos os dias são nossos. Os dias doze não passam. Eternos namorados. Eternos amantes da nossa vontade. Cúmplices. Confidentes. Somos assim. Nada parece ser capaz de me segurar. Sinto que posso voar. E se caso eu caia, sei que será sempre nos seus braços de amor, de paz. Você se tornou meu lar. Quero sempre todo dia em você morar.

A.F.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Sereia


Como saberia disso?
Era impossível.
Arrisquei tudo que tinha.
Aquilo que não tinha.
O pouco que me permitia.
Você simplesmente cantou aos meus ouvidos.
Uma sereia ardilosa.
Um veneno que eu quis provar.
A sua voz doce.
Os olhos insólitos.
A frenesi ao pronunciar seu nome.
O calor ao seu redor.
Tudo era por você.
O meu melhor e o meu pior.
A obscura verdade.
A mentira exposta.
Nada escondi.
Desvaneci do meu eu.
Era teu.
Somente e unicamente teu.
Então diga, onde te perdi?
Onde pisei em falso nessa lida.
Nos trilhos que levam ao sorriso.
O caminho espinhoso.
O coração entorpecido.
Onde?
Como poderia recuperar?
O velho sabor.
O antigo olhar.
A sereia que me fez em seu amor me afogar.

A.F.

Uma tarde dessas


Estou imaginando nós dois aqui na cama. A tv ligada passando um filme qualquer. Nossas pernas embaraçadas. Nossas mãos presas em nossa pele suada. Nosso hálito quente. Nosso gemido de prazer. A janela aberta e a chuva lá fora. A sensação de embriaguez. A nudez. Nossa música em sincronia. Nossa melodia. Nosso amor no ar. A falta dele. O ar nos pulmões e os gritos. O filme não assistido. Os sorrisos. O sussurro apaixonado. A promessa. Nossos corpos se derretendo. Uma pintura abstrata. Realista. O rubor da pele quente. O suor dos lençóis. O barulho das gotas de chuva. A letra mais linda sendo escrita. Nós um verso intenso. Profano. Cheio de desejo. Essa é minha vontade. Passar uma tarde assim contigo. Perdendo tempo. Ganhando mimo. Despejando querer. Se rendendo. Sedentos. Um só. Nós. Assim. Pra. Sempre.

A.F.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Depois


Depois que tudo isso acabar, por favor, não permaneça o mesmo. Aproveite o revés e se transforme em sorte abundante pra quem chega e quer morar. Renove as energias, recarregue essa bateria e ilumine seu caminhar. Seja luz própria. Seja outra versão sua. Uma versão melhorada, repaginada e transformada. Se dê uma chance de aceitar seus erros. Acredite nos seu feitos. Você não precisa ser perfeito. Ninguém é. Apenas não se conforme com as coisas que pensam sobre você. Não tem mais necessidade de se reprimir. Viva inteiro. Seja verdade. Completo. Não mais oculte seu querer. Busque viver e amar sem impor limites. A vida está nos provando sua brevidade. O quanto ela é frágil . Um sopro e tudo cai. Não caia nessa. Erga a cabeça e corra atrás dessa mudança. Todo mundo merece tentar, arriscar e alcançar. Todo mundo que se dispõem. Seja alguém que queira mudar o mundo, mesmo que esse mundo seja sua mentalidade, seus princípios e suas metas. Mesmo que pareça uma besteira qualquer. Sonhe. Ainda há motivos pra sonhar. Acredite. O mundo mudou, então não há porquê se contentar.

A.F.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

O amante

Perdi as contas de quantas vezes verifiquei meu celular. Esperando qualquer mensagem sua. Qualquer curtida em uma foto recente. Perdi o sono mais uma vez. Virou rotina assistir o sol nascer pela janela do meu quarto. Já fui na cozinha inúmeras vezes só hoje. Não tenho fome. Só queria abrir a geladeira e pensar. Queria saber sobre você. Se ainda está bem. Se ainda continua com ela. Será que fiz besteira? Será? Estou deitada, me remoendo por dentro. Angustiada. Estou desorientada. Não consigo acreditar que me deixei enganar. Que não, você não me amava. Me usou para conseguir seu status e por fim, não precisava mais fingir. Você me enganou. E eu ainda queria uma interação sua. Uma ligação, um sms, um sinal de vida. Mas você sumiu. Faz uma semana e nada. Me restou seu cheiro na toalha, algumas peças de roupa lavadas e as lembranças de um amor unilateral. Você me acolheu no seu mundo particular. Me fez acreditar nas suas juras e assim que conseguiu tudo que queria, me descartou. Não foi sutil, falou isso na minha cara. Que só queria meu dinheiro, minha mídia e meu ciclo de amizade importante. Desde o início eu sabia que você seria o pior filho da puta que teria cruzado meu caminho, mas mesmo assim resolvi arriscar. Quem sabe poderia fazer você por mim se apaixonar? Fui orgulhosa. Fui mesquinha. Desde o início eu já sabia. Porém quis acreditar nas minhas fantasias. Que um rapaz tão jovem se encantaria por uma mulher de quarenta. Uma mulher que poderia mostrar uma versão madura de uma relação. Uma experiência mais intensa. Uma aventura perigosa e excitante. Não. Você foi mais um dos inúmeros rapazes com quem saí. Foi pura distração. Foi luxúria e nada mais. Ainda olho pra tela do meu celular na esperança de haver algum vestígio seu. Alguma notícia. Nada. Então é isso. Ele conseguiu. Você não mais aparecerá. Foi embora pra sempre. Meu marido descobriu tudo e teve que ceifar sua vida desgraçada. Uma pena, era tão novo e cheios de planos. Nem pôde aproveitar o dinheiro que levou consigo. Uma pena, não é mesmo?

A.F.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Bem feito


As mãos corriam atrás da sua.
Era o maldito costume.
A droga da rotina.
Não mais.
Nada será igual.
Você se foi.
Deixou saudade.
O dissabor.
O penar.
Ela ainda tentou.
Foi atrás.
Implorou.
Você a ignorou.
Hoje você chora.
Ela já encontrou a si mesma.
Ela não precisa de você.
Nunca precisou.
Só que você ensinou.
E ela fez questão de aprender.
Bem feito.

A.F.

Isolamento emocional


Pensei em você. Em nós. Nos dias que podiam ter durado. Nas noites em claro. Nas inúmeras palavras não ditas. No gosto do café pela manhã, após um noite intensa e cheia de paixão. Pensei. Hoje o mundo tá um caos. Na verdade sempre foi assim, só agora perceberam? Só se deram conta agora que tudo desandou faz séculos? Meu Deus! Que vida injusta. Queria tê-lo por perto, mas mesmo que pudesse não poderia. Mesmo que quisesse seus abraços, não poderia receber um sequer. Sim, saudades de aglomerar nossos desejos e nossas preocupações inúteis. Sinto falta até de brigar por besteira. Tola. Iludida. Sentindo falta de alguém que nem sequer pensa em mim. Não passa pela minha cabeça que somos o fim. Tinha tudo para continuar. Mas a vida não quis. A gente também não. Na época parecia certo. Melhor. Não foi. Pelo menos não para mim. Fico aqui presa nos meus sentimentos sufocados. Presa no meu quarto abafado. Insatisfeita. Sozinha. Perdida. Não sei quando poderei voltar. Fiquei lá atrás. Pensando em você. Em nós. Nos dias que podiam ter durado um pouco mais...

A.F.

domingo, 12 de abril de 2020

Funny


O engraçado nem foram suas juras evasivas e insossas, foi depois do tapa de realidade que levou. Antes seu discurso florido, agora uma podridão de palavras ofensivas desnecessárias. Ainda estou tentando entender. Era esse o teu amor? Era realmente só isso que você tinha pra oferecer? Que vergonha. Estou tão desapontada. Pensei que seria mais insistente, sabe. Pensei que valia à pena. O pouco do que vi foi suficiente. Você confundiu tudo. Pensou ser amor, era só mimo. Era apenas desejo. Voluptuoso e momentâneo. Chama que arde, mas não chega a queimar. Foi isso somente. Nada de sentimento pulsátil e dilacerante. Nada que te fez sair do padrão. Nada que fez você olhar pra trás e ter desejado nascer antes. Nada perto de tudo que me disse por telefone e pessoalmente. Tudo uma farsa. Tudo um engano. Que bom que você entendeu. Não precisei desenhar... Agora licença, preciso seguir meu caminho. É tão lindo ensinar o óbvio pra você. Revigora minha alma. Adoro rir das tuas merdas, baby. Você é um completo idiota e isso me conforta. Isso me deixa feliz. Me deixa saciada. Estou sedenta de razão, moral e sensatez. É divertido rir da sua cara, seu idiota. Não preciso lidar com isso agora. Tenho outras coisas pra fazer e você não vai ocupar mais nenhum segundo da minha atenção. Vai embora e não esquece que você melhorou meu humor, agindo assim... Exatamente assim.

A.F.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Apetência


A sua voz rouca sussurrou palavras sujas. Meu corpo reagiu a sua intenção. A gente estava no seu carro, parados na frente da sua casa. Você não conseguiu resistir por muito tempo ao meu cheiro doce de cereja. Você me segurou nos braços e me deu um beijo feroz. Senti seu membro rígido e pus minhas mãos em você. Queria te sentir mais e mais. O clima dentro daquele espaço tão pequeno e perfeito pra gente enlouquecer embaçou os vidros. O tempo lá fora era chuvoso. A gente era só fogo. A gente fazia pegar fogo em qualquer lugar. Não dava para me controlar com seu hálito de menta, a sua língua no meu céu, a sua mão tirando meu sutiã vermelho e me expondo assim. Olhava pra ti sedenta, não tinha como fugir. Você me mastigava lentamente e variava a velocidade quando eu pedia mais. Você dirigia tão bem. Maestria sua pilotagem, baby. O ritmo dos nossos corpos era insano. Seus lábios na minha costa nua, o caminho que eles faziam na minha pele. Minhas unhas que te marcavam agressivamente. O seu cabelo bagunçado e seu sorriso safado. Tudo em você me permitia agir assim. A gente não se importava. Simplesmente fluía. O tempo molhava a grama do seu quintal, e aqui no seu carro nós dois mergulhávamos no nosso próprio oceano de desejo e prazer infinito. Adorava quando você dizia que eu era sua, e eu repetia o seu mantra favorito, 'eu sou só sua amor'. Essa nossa loucura não tinha lugar nem hora. A gente tinha fome, comia. Tinha sede, bebia. Tinha vontade, fazia. Era mais fácil com você. Era certo. Era seguro, mesmo não sendo. Não tinha como explicar, a gente sempre acabava desse jeito, suados e ofegantes. Rindo que nem bobos quando o ápice nos atingia. O sol já abria um sorriso amarelo, daqueles que dizia, sou cúmplice sim. A culpa foi nossa. Até a natureza se curvava diante do nosso implacável querer. Você me beijava e me encarava corada, ainda sem ar e completamente apaixonada. Eu te abraçada e sentia que o mundo inteiro podia explodir, pois só precisava de você. Só de você aqui, agora e pra sempre.

A.F.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

sobre os últimos dias da terra


Nessas manhãs sombrias, o rosto dele me iluminava gentilmente. É assim que se vive uma vez. Amando, permitindo-se errar e acertar. Foi para nós uma oportunidade de tentar nos achar, dentro de nossos corpos fechados e punhos cerrados. O orgulho não nos conteve. Nós vencemos juntos dessa vez. Mesmo diante de tantas notícias ruins. Criamos um escudo e só absorvíamos o que era útil e agregava. Deixamos pra trás toda mentira e briga à toa. Não era tempo pra isso. Desfrutamos do tempo que tanto pedíamos. Desfrutamos de nós dois. Que delícia viver assim. O mundo inteiro um caos, mas aqui dentro somos um e vencemos juntos. O amor é um sacrifício diário, mas parecia tão fácil com você. Você sorria meu coração. A vida se tornara outra. Mais leve. Mais especial. Mais contagiante. Queria que todos pudessem sentir aquilo que sentíamos. Queria poder gritar que nada mais me importava se o tinha ali. Você era minha força. Eu era a sua raíz. Nutríamos nosso jardim do amor. Tudo era novo e o renovo em mim era transcendental. Em tempos difíceis seguramos a mão um do outro e nos juramos amor eterno diante do findar dos dias na terra fria, esgotada e amarga. Prometemos um pra sempre, mesmo sabendo que ele não existia. Fomos contra tudo aquilo que acreditávamos. Nos reinventamos e passamos a viver a vida que tanto sonhávamos.
A.F.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Em minha mente


Na minha cama tem o cheiro dela.
Na minha mente só vem a boca dela.
O formato perfeito dos lábios.
As expressões faciais quando irritada.
O som da risada.
O quarto ainda não modificado.
Tem foto dela na parede.
Alguns borrões amassados que ela deixou.
A calcinha amarela na gaveta.
O sutiã pendurado no cabide.
As manias que ela me viciou.
Tudo tão vívido.
Não parece, faz quase 1 ano.
As últimas palavras que ela falou.
O último olhar que ela me lançou.
A dor que me rasgou o peito.
A brasa que esfriou pelo tempo.
A vida que passou a morrer em mim.
Os ponteiros do relógio de pulso,
Que parecem me torturar,
Repetidamente dizendo que ela não vem,
Que ela não volta e é melhor eu aceitar.
Mas não aceito.
Impossível.
Pra mim ela ainda está aqui.
As curvas do corpo dela que encaixam em mim.
Meu corpo que reage a cada memória dela.
Meu peito que ainda não sarou.
Ela vive em minha mente.
E não vou mentir, não quero que passe.
Quero eternizá-la.
Amá-la nem que seja assim.
Somente dentro da minha cabeça.
Saber que provei do gosto,
E ele ainda é real aqui.

A.F.

Temprano


Essa pessoa está por ai.
Não vai ser que nem aquele lá.
Não.
Ele vai ser único.
Vai ser diferente e você vai entender.
Lá na frente, você vai saber.
Toda dor que doeu.
Todo amor que te rompeu.
Toda solidão que te escondeu de si mesma.
Ele vai segurar suas mãos.
Ele vai acariciar seu rosto, pequena.
Ele vai saber.
Você também vai.
Aquela pessoa que muitos querem.
Ele virá feito brisa de primavera.
E o cheiro no ar será seu perfume.
As lavandas do campo.
Os beijos, as gotas da chuva te molhando.
E você saberá quando ele chegar.
Ele vem.
Temprano.
Faz seus planos, menina.
Ele vai chegar e te levará daqui.
Não apenas mais um.
Mas ele sim, feito para ti.
Ambos feitos um para o outro.
Destinados a se amar até o fim.

A.F.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Jazia


Não queria terminar assim.
Pedi por uma resposta.
Tarde demais.
Você se foi, não olhou pra trás.
O mundo continuou.
Eu não, eu parei ali.
Meu olhar refletindo meu eco.
Quem falava, se ouvia.
Tudo passava por mim.
Não reverberei.
Não emiti uma vogal sequer.
Fiquei completamente imóvel.
Meu peito batia.
Mas eu jazia há tempos.

A.F.

domingo, 1 de março de 2020

Prisão


Restaram as palavras soltas.
As poesias sem métricas.
As rimas desengonçadas.
Uns versos rabiscados.
Eu era poeta.
Você a inspiração.
A melodia de toda minha música.
A canção por fim cessou.
E o silêncio veio e ficou.
É inverso aqui.
Paralelo da solidão.
O inverno que congela meu peito.
O inferno que me condenou.
Prisioneira sou.
Perpétua de ausências.
Do gosto bom do teu cheiro.
Da canela do seu beijo.
Das flores dos cachos seus.
E sou refém pra sempre.
Da agonia de não sermos um.
Da imensa dor de não ser tu, meu poema.

A.F.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Com todo amor


Quando ele chegar, saberei.
Ele trará muitas marcas da vida.
É inevitável não tê-las.
Ao decorrer do caminho algo pode ter sido ferido.
Ele pode ter chorado escondido.
Às vezes, feito outra chorar.
Sentimentos são assim.
Quando ele chegar, saberei.
Sentirei na minha espinha o arrepio.
Será um reencontro de dois desconhecidos.
O coração falará tão alto.
Isso acontecerá, quando ele por fim chegar.
Serei uma pessoa melhor.
Ele também mudará.
Sincronizados nessa mutação.
Dois corpos que se habitarão.
Uma nova historia pra escrever.
Quando ele chegar, todos saberão.
Meu olhar confessará.
Não vai ser difícil notar.
Meu sorriso nos lábios ao seu nome pronunciar.
Ele segurará minhas mãos com graça e gentileza.
Será meu confidente.
Meu melhor amigo, meu amante, meu infinito.
E seremos dois idiotas olhando pro céu, sonhando alto e contando estrelas.
Não tenho pressa, venha no seu tempo.
Ainda te espero, com todo meu amor,
Sua.

A.F.

Escolhas erradas


Eu me apaixonei pelas migalhas.
Uns olhares vagos e cheios de malícias.
Eu me apaixonei por esse jeito solto.
Pelo desejo de ter a atenção só pra mim.
Eu me enganei sozinha.
Eu sabia de tudo desde o início.
Sabia que não valeria à pena.
Mas insisti nisso.
Não dei o braço à torcer.
Perdi sangue, orgulho e sobrou cicatrizes.
Fiz minhas escolhas erradas.
Aprendi depois de muita mágoa.
Superei toda minha neurose.
Ganhei nova perspectiva sobre tudo.
Eu me apaixonarei algum dia,
E será diferente.
Será de verdade e pra sempre.
Eu sei...

A.F.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Sometimes...


Às vezes faz falta a companhia de alguém. O ombro que apoia os desejos mínimos. O aconchego mútuo. Os carinhos embaixo do edredom que aquecem os pés dos dois. Às vezes dá saudade ter pra quem correr no inverno da incerteza. E a cabeça que pensa junto e os olhos que se encontram sempre a cada olhar. A vontade que se renova a cada beijo e o tempo que não passa. Parece que ele congela o medo, a ausência, a limitação. E resta amor, leveza e a doçura das canções que tocam toda vez que os caminhos se cruzam. Só às vezes fica doendo não ter com quem dividir a cama e brigar pelo maior pedaço da pizza. Mas depois passa, e você lembra que pode comer tudo e beber tudo e chorar tudo e viver tudo, sem ninguém por quem sofrer. O amor amarga. O amargor te faz esquecer o sabor de amar. E somente às vezes, quando chove, você pensa de novo que sente falta de alguém pra contar seu dia e se pega planejando coisas que está longe de realizar.

A.F.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

WORDS


Palavras podem calar um coração.
Ao mesmo tempo que podem envolver outro.
Ela é chave que tranca e abre.
São delas os sentimentos diversos.
Ela desvenda e destrói.
Vem e fazem morada.
Ou simplesmente abandonam e somem.
São aconchego para o vazio.
São luzes para a escuridão.
Ou o contrário, elas dissipam a luz.
A luz que elas trazem arde.
São chamas imutáveis.
Constrangem ou desafiam.
Fazem sorrir ou chorar.
As palavras carregam todo o amor.
Elas carregam também toda dor.
São gentis ou cruéis.
Só elas possuem tanto poder assim.
Uma vez ditas jamais podem ser retiradas.
Elas marcam vidas, histórias e destinos.
Tem todo esse poder e duram pra sempre.
Não usá-las é tolice.
Se escritas e ditas devem significar algo.
Jamais serão simples.
Tão únicas e complexas, são elas.
Palavras pesadas e leves.
Pequenas ou grandes.
Cheias de intenções mil...

A.F.

Insignificante


É estressante perder pra mim.
Para desejos vis.
Mentiras deliciosas.
Músicas ao meu ouvido.
Que despertam memórias e sonhos.
É frustrante gostar assim.
Não pareço suficiente.
Não pertenço ao coerente.
Dentro de mim gritos ecoam.
Como se meu corpo pudesse falar.
E ele diz que te quer tanto.
Meus pés continuam te seguindo.
Lentamente.
É insignificante essa tentativa.
A canção não foi feita para durar.
Nada de fato é.
Não seria diferente para nós.

A.F.