domingo, 19 de novembro de 2017

Estranha verdade


Queria me afogar nessas luzes.
Ondas que lambem minhas pernas.
Deixe que dure até o final.
Essa estranha vontade.
A estranha verdade.
Quero que isso me consuma.
Que meu corpo transborde
Todo o calor que emana de ti.
E que nua, tudo frutifique em mim.
Sou uma árvore frondosa.
De raíz profunda.
Do adocicado perfume.
Das imperfeições que me definem.
Quero, por um momento,
Escutar teu coração batendo.
E que você me queira...
Como ainda não me quis,
Mas como irá um dia querer.
Essa é a minha ideia.
Fazer valer tudo a pena.
Inspirar e ao mesmo tempo ser.
Dentro do meu irreal.
Dos planos que escrevi sozinha.
Só por hora,
Umidecer meus lábios nos teus.
Olhar para teus olhos.
Me enxergar neles.
E sonhar que tudo foi assim.
Diante da face do agora.
Você, melhor parte de mim.





Cigana


Muitas vezes olhei para atrás.
Mas tudo que eu precisava
Estava  bem na minha frente.
Diante dos meus olhos de cigana.
Um pouco oblíqua,
Porém muito dissimulada.
Tentei por minhas mãos.
Estraguei tudo.
Não era novidade.
Mas tentei, várias vezes!
Pois acreditava que seria melhor assim.
Naquela idade, as coisas eram simples.
Pensei que tivesse tempo.
Mas o tempo nunca pensou em mim.
E me perdi nas minhas raízes.
Tolas e frágeis tentativas.
Talvez por acreditar demais,
Ou por duvidar de menos.
De toda as minha feridas.
Tudo que  acumulei por esses anos.
Decepções, amores, conflitos.
Um turbilhão de sensações.
Tudo dentro da pequena mulher.
Dos olhos de ressaca, marejados...
Que escreve muito,
Mas sente ainda mais que um bocado.

A.F.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

É tudo mentira



Eles dizem que a vida é para os fortes.
Nunca foram ditas verdades mais sinceras.
O homem é uma fera,
Diante dessa carnificina que nos sujeitamos.
Os muros são altos,
Maiores que qualquer empatia.
Os olhos são grades,
Enferrujadas e opacas.
Tudo nessa vida é mentira.
Quando se tem, não se tem nada.
Quando se ganha, a perda é fatal.
As mãos calejadas que sangram,
Em busca de um mísero real.
Tudo aqui foi combinado.
Sempre acreditei que sabia de algo.
No fundo eles mentem,
A gente aceita as migalhas,
E sorri sem dentes.
Porque tá faltando pão na mesa.
Remédios para essa gente. 
Para pelo menos nos entorpecer.
Melhor do que viver,
É morrer tentando acertar.
Não sei bem o que,
Mas faria sentido arriscar.
Que se dane o que pensam de mim.
Pelo menos nessa merda aqui,
Tô consciente de nadar.

A.F.

Das casualidades da vida



Ela disse que não queria nada. Ela estava mentindo para si mesma. Era bem normal repetir que tudo era mentira, que aquilo ia passar logo e ela não sentiria nada por ele. Outra vez se enganou. Fingiu que estava tudo bem, e partiu para sua vida normal. Ela provou muitos sabores, mas aquele era especial. O beijo dele era carregado de um desejo insano, tão profundo que a fez suspirar. Antes mesmo que fosse possível raciocinar, ela estava caída aos pés daquele homem. Ele não tinha muita coisa, apenas planos e palavras gentis sussurradas ao seu ouvido. Aquilo foi suficiente para apaixonar-se. Ele só fazia o que ela gostava. Ele só falava o que ela queria ouvir. Ele sabia como deixá-la eufórica ou paralisada. Mas isso era capricho, era vontade, desejo e prazer. Jamais foi amor, jamais foi além do que deveria ser. Ela prometera esquecer. Borrar as boas lembranças. Os dias que passou deitada em sua cama vendo tv. As noites que rolaram debaixo de lençóis, suados e cheios de tesão. Ela prometera. Não cumprira. Ao contrário, mentiu para si mesma. Mentiu e sorriu para ele, agradecida pelos íntimos desejos revelados, pelas fantasias realizadas e loucuras despertadas. Tudo não passara de uma aventura. Daquelas que ela só provou uma vez, e pensou que poderia ter para sempre. Não. Ela nunca poderia ter o afeto singelo daquele homem. Eram bons amantes. Eram até amigos. Porém, nunca mais do que isso. Ela memorizou seu corpo, aproveitou cada último instante antes de ir. Melhor partir antes que o estrago seja maior dentro de si. Antes que ela não consiga mais sair da vida dele, de onde jamais poderia ocupar um lugar desejado. Ela foi, mas prometeu que assim que ele quisesse, ela retornaria de bom grado. Quando se está apaixonado tudo é um absurdo, é tudo muito fácil. O orgulho não fica, ele vai. Fica apenas o querer inflamado de ter mais e ser mais para o outro. E como ela queria que tudo fosse verdade, nada casual. Que ele a enxergasse com outros olhos, mas não. Ela precisava enfrentar a realidade, e aceitar sua condição. Que o amor é diferente da paixão. Que ele nunca prometera nada além do que oferecia. E a vida tem dessas coisas. Ela nos dá, mas quando é chegada a hora, ela nos tira.

A.F.

O findar


Resolvi não remexer no passado.
Melhor deixar ele lá.
Com os planos e palavras.
As histórias engraçadas.
As fotografias e as cartas.
Melhor que se finde.
O quanto antes. 
Por favor!
Que é pra dor passar logo.
Antes que tudo em mim se vá.
Antes que seja tarde
Pra recomeçar.
Melhor que cutucar feridas,
É cicatrizar e cuidar para não infeccionar.
Inspecionar para que não se repita.
Para que fique melhor e pronto.
Pois já não resisto o pranto.
E realmente é tanto,
Que não suporto mais.
Prefiro esquecer.
Jogar tudo por cima.
Enterrar de vez.
As músicas e melodias.
As letras e rimas.
Do que ir junto.
Morrer e me perder de mim,
Por causa de você.

A.F.