quinta-feira, 21 de março de 2013

Seu nome rima com o meu

Poderia ser mais uma linda história de amor, mas não é.
Você rabiscava no meu caderno desde o jardim. Jogava papel nas minhas costas na sala de aula. Irritava meu humor. Rimava meu nome com alguma coisa bem idiota. Fazia seu papel de menino.
No ensino médio meus cabelos cresceram, as espinhas surgiram e os seios também. Não me perturbava mais, tão pouco olhava pra mim. Seu estilo mudara, seus amigos eram os mesmo imbecis de sempre, mas você tinha um sorriso lindo, percebi. Minhas amigas eram afim de você, uma até te beijou. Lembro que um dia me olhou, rapidamente corei. Não sentia isso desde quando vi o último filme do Johnny Deep. Qual é, não tinha a mínima chance da gente namorar. Jurei que não mais pensaria na covinha que seu sorriso proporcionava.
Último dia de aula, todo mundo rindo, os emotivos chorando, você agarrava uma loirinha. O nome dela rimava com piriguete. A garota usava bojo, será que você não sabia? Minhas amigas queriam ir pra festa na casa de um fulano de tal. Não tava afim de gente chata, música chata e te ver trocando saliva com a loira burra. Mas sabe como é. Então conheci meu vizinho, irônico né? Seu nome rimava com anjo, ou era ele que parecia um? Tanto faz, ele tinha um papo legal, também não estava afim de estar lá. Decidimos fugir para a praça mais próxima. Conversa vai e vem. Ele me encarou daquele jeito, o beijo tinha gosto de canela. Odiava canela, mas passei a amar a partir daquele dia.
Três anos atrás morava no Rio. Senti saudades de você. Meu ex vizinho e ex namorado - é, namorei com o canela - sentiu falta de mim. Bem típico né? Daí um dia quando cheguei da faculdade, ouvi sua voz na caixa de recados. Repeti a mensagem umas trezentas vezes, decorei até o momento da sua respiração. Você tinha uma voz deliciosa de ouvir, você estava delicioso. Conferia suas fotos na internet quase todo dia, confesso. Não entendia porque nunca havia me permitido. Por que a gente não tinha nem tentado nada. Estava na sua cara que sentia algo, desde sei lá. Medo? Fácil demais. Medo meu. Isso é verdade. Fui covarde, não deixei meu coração falar mais alto.
Ontem a tarde foi linda, conheci uns lugares novos aqui em Londres. Meu trabalho ocupa a metade do meu tempo. Nas horas vagas converso com você pelo skype. Rimos das besteiras de criança, dos nossos ex namorados e de um monte de coisa que não realizamos. Você está solteiro, então porque não tentamos? Será pela distância? Ou estamos velhos demais para tentar? É que agora não será fácil. Gostamos tanto da comodidade, que até no amor esperamos que tudo se resolva sozinho.
Seria uma linda história não é mesmo? Amigos desde pequenos, nunca nos beijamos, nos encontraríamos em uma praia deserta, e declararíamos nossos mais profundos sentimentos. Fantasia demais até pra mim. De qualquer forma, meu telefone é o mesmo, só não garanto que estarei sempre te esperando. Sei que devia ter mandado pelo bate papo, mas resolvi escrever essa carta. Se você leu até aqui, obrigada. Você continua o mesmo cara que conheci no jardim, só que agora tem barba, mas ainda mora com a mamãe. Foi inevitável. Enfim, espero que algum dia a gente se esbarre por ai, ou então encontremos nossos amores nesses bares que os filmes de comédia romântica sempre apresentam; cheios de mulheres e homens solitários como a gente atrás de um alguém pra passar a noite de conchinha enquanto chove lá fora.


Amanda F.

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