Virei um muro, onde passam todos os dias milhares de pessoas. Elas se encostam nele, rabiscam, picham, se agarram perto dele, mijam, fazem o que quiser. Esperam. Desistem de esperar. Usam. Destroem. Reconstroem. Mas o muro nada diz. Não sai de lá, não vai atrás de um referencial melhor. Simplesmente permite o que é submetido. Parado ali. Sozinho altas horas da madrugada. Alguns gatinhos o visitam. Outros só se aproveitam como os humanos. Um muro enorme, dá um quarterão. Um muro alto. Feito de tijolos e pintado de acordo com gostos diversos. Virei um muro. Onde não bate nada. Sem coração. Frio. Esquecido. Um muro onde alguns se consolam, outros se adoram. Um muro onde milhares de pessoas vem todo o santo dia. Mas nem sequer pensam "poxa, esse muro precisa de carinho?". Sou esse muro. Duro. Gélido. Descascado. Isolado. Deteriorado. Sujo. Feio. Banalizado. Cuspido. Totalmente destruído.
Amanda F.
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