domingo, 9 de junho de 2013

Éternité

Olhando pela janela do seu quarto ela só queria poder esquecer aquele fim de tarde maldito. O fim do dia mais triste de sua vida. Ele falou em poucos minutos que não poderia continuar com aquilo. Ela sonhara uma vida, e ele fez questão de apagar em minutos sua eternidade. Ele não queria continuar "aquilo". Ela queria gritar, queria fingir entender errado, queria apagar de sua memória o que tinha escutado, queria chorar, queria se exilar do mundo, queria acordar desse pesadelo, queria muitas coisas, queria dizer que aquilo tinha nome e se chamava amor. Amor...
Sua cabeça era uma onda agitada, em fúria, em chamas, se água pudesse em fogo virar. Ela não suportaria aquela dor, não por muito tempo. Precisava ir atrás dele, dizer que era mentira, que ele nunca foi o homem da sua vida, que as alianças em seus dedos eram apenas objetos de metal, e que a vida agora seria muito melhor sem aquele homem para chateá-la. Mas não. Não poderia ser tão falsa consigo. Não poderia enganar a si mesma por muito tempo, por hora era sua melhor ideia. Ela ligaria para ele, combinaria um encontro impessoal na cafeteria onde se conheceram, nada por acaso. Eles conversariam como anos atrás, seriam dois estranhos que um dia planejaram ter filhos e um cãozinho chamado snoop. Ela o diria que foi a melhor decisão, a decisão mais egoísta que já tinha ouvido, mas a mais sensata. Dariam as mãos, e aquele último toque a faria sangrar por dentro. Ele não notaria, é claro. Ela leria aqueles olhos negros, e com  seus olhos diria um adeus com gosto de até logo. Seria perfeito.
Sua cama estava estranhamente mais fria, seu corpo clamava por um carinho, sua boca um beijo lhe pedia, e seu peito era de um vazio inigualável. Arrumou seu vestido negro, estava de luto pela separação. Pintou os lábios de vermelho, para que ele não desconfiasse de sua falta de preocupação. Ela agiria como uma cobra, esperando a hora de atacar. Na bolsa uma arma, aquele maldito dia não iria ser em vão. Suas mãos tremiam, e as lágrimas jorravam como explosão de um chafariz. O corpo inerte dele a amaldiçoava e ao mesmo tempo a satisfazia. Seu desejo de eternidade não seria jamais apagado, ela morreria logo em seguida ao lado de seu eterno amado.


Amanda F.

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