quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Inundada

No reflexo um corpo jovem e um coração velho. Uma farsa rodeada de verdades. Na mente uma fumaça azulada. Os olhos vagos brilhavam. Nos lábios um cigarro. Mais fumaça na cabeça. Tonta sem cair. Descrente da paz universal. Já decidida a apoiar os liberais. A estampa da camisa é o rosto de alguém que nunca viu. Carregava alguns medos na bolsa jeans. Seus passos incansáveis. Não desistiu. O amor é mentira, recitava. A vida é intuitiva, aceitava. Alisava suas mechas rosas, enquanto ouvia sua canção favorita. Esperava um ramalhete. Suas tulipas amarelas desejava. Olhava da vidraça as coisas que não possuía. Pendia de um precipício todo dia. Aprendeu sozinha a se esquivar. No punho algumas marcas do passado. Relembrar do passado a feria. Nos cadernos alguns versos. Beijava o céu e trepava na terra. Era o oposto do que sempre quis. O cintilante brilho do batom, instintivamente gritava. No quarto um homem sem as calças. 24 horas. Ela não mais contava. Perdeu-se no mundo onde não habitava. Cheirava, provava, renunciava, arrancava, por nada. Ordinária. Corpo juvenil, corpo vadio. Vende-se a alma. Mil mãos a tocavam. Nos olhos um sorriso vil. Eles a pagavam. Ela cobrava. Meretriz. Mera atriz. Infeliz. Não o quis. Renegada. Das ruas. Esquinas. Dos porões sujos dos navios encalhados. Inundada. Imunda. Mudada. Dada aos quereres de outrem. E nada mais.

Amanda F.
 

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