quarta-feira, 6 de junho de 2018

Ilusão


A boca em si já a deixou encharcada. Só pelo jeito que o beijo aconteceu. Inesperado. Impróprio. Ousado. Foi daqueles chupados que deixa uma marca de adeus. Não adeus de não vai rolar outra vez. Um até logo e não demora seria mais sensato. Mas ela tinha que ir embora. O busão partia às quatro. Era insano esse lance. Mais que lance, uma aposta. Ela apostava que estava disposta a jogar tudo pelo amor, pela loucura dessa aventura. Do sexo casual. Das insanidades que a gente comete quando dá muito bem. Ela dá tudo que tem. Recebe também. E nessa de dar e receber ela gemia gostoso, sentia de novo seu corpo renascer. Ela queria voltar era para o quarto. Lá onde seus gritos não eram abafados. Os cabelos bem puxados. Os dedos encaixados. Os corpos suados. As línguas e seus rastros. A perfeita posição do momento exato do ápice daquela sensação que a embriaga toda vez que prova. O gosto de todo esse acaso. É isso que ela queria de volta, mas já passava da hora. Tinha que se tocar que nem tudo é possível, nem mesmo aquele corpo, aquele olhar, o maldito e insano momento do prazer mais abundante que provara. Era hora de aceitar, a realidade é cruel. Ela não tinha quem queria. Tinha apenas a doce ilusão. Na cama uma insana. Na vida uma cigana. Uma delícia de várias bocas que já percorreram seus seios, as coxas e as nádegas. Mas nem que ela quisesse seriam suas. Nada. Ela só molhava, a calcinha e o rosto, de vez em quando.

A.F.

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