sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Das casualidades da vida



Ela disse que não queria nada. Ela estava mentindo para si mesma. Era bem normal repetir que tudo era mentira, que aquilo ia passar logo e ela não sentiria nada por ele. Outra vez se enganou. Fingiu que estava tudo bem, e partiu para sua vida normal. Ela provou muitos sabores, mas aquele era especial. O beijo dele era carregado de um desejo insano, tão profundo que a fez suspirar. Antes mesmo que fosse possível raciocinar, ela estava caída aos pés daquele homem. Ele não tinha muita coisa, apenas planos e palavras gentis sussurradas ao seu ouvido. Aquilo foi suficiente para apaixonar-se. Ele só fazia o que ela gostava. Ele só falava o que ela queria ouvir. Ele sabia como deixá-la eufórica ou paralisada. Mas isso era capricho, era vontade, desejo e prazer. Jamais foi amor, jamais foi além do que deveria ser. Ela prometera esquecer. Borrar as boas lembranças. Os dias que passou deitada em sua cama vendo tv. As noites que rolaram debaixo de lençóis, suados e cheios de tesão. Ela prometera. Não cumprira. Ao contrário, mentiu para si mesma. Mentiu e sorriu para ele, agradecida pelos íntimos desejos revelados, pelas fantasias realizadas e loucuras despertadas. Tudo não passara de uma aventura. Daquelas que ela só provou uma vez, e pensou que poderia ter para sempre. Não. Ela nunca poderia ter o afeto singelo daquele homem. Eram bons amantes. Eram até amigos. Porém, nunca mais do que isso. Ela memorizou seu corpo, aproveitou cada último instante antes de ir. Melhor partir antes que o estrago seja maior dentro de si. Antes que ela não consiga mais sair da vida dele, de onde jamais poderia ocupar um lugar desejado. Ela foi, mas prometeu que assim que ele quisesse, ela retornaria de bom grado. Quando se está apaixonado tudo é um absurdo, é tudo muito fácil. O orgulho não fica, ele vai. Fica apenas o querer inflamado de ter mais e ser mais para o outro. E como ela queria que tudo fosse verdade, nada casual. Que ele a enxergasse com outros olhos, mas não. Ela precisava enfrentar a realidade, e aceitar sua condição. Que o amor é diferente da paixão. Que ele nunca prometera nada além do que oferecia. E a vida tem dessas coisas. Ela nos dá, mas quando é chegada a hora, ela nos tira.

A.F.

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