quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Fluvial


Abriu os olhos, seu rosto ainda quente, o dele por cima de seu ombro. Feito um anjo, suspirou. Deixou que ele sonhasse, levantou-se. Na sala uma parte das roupas deles. Na mesa copos cheios de vinho quente, e os pratos intocáveis com pedaços de pizza. A preferida dela. Não era fome, pensou rapidamente. Era sede. A mais sedenta de todas. Sentou no sofá. Calçou a sandália que ele lhe dera. Voltou ao quarto, o acordou acariciando a orelha. Ele a fitou, a beijou, a puxou e a bebeu. Ela o brindou, em cada gole o saboreou. A cama de solteiro era tão feita para dois corpos, que logo eram um. Evaporavam. Mergulhados. Ambos molhados de suor, de qualquer coisa parecida. A parede azul, as persianas insanas. O sol os cortavam, em linhas amarelas e sombras negras. O vai e vem dos lencóis de cetim. Os cabelos negros que se misturavam nos dedos atiçados. Ele nadava em seus rios rasos cristalinos. De repente dilúvio, e tudo desabou. A ofegante onda de calmaria. Satisfação mútua. Ela o abraçou, ele a recebeu. E pelo modo que se olhavam sabiam que seriam assim por longos e felizes anos. Ele contemplava a estrela no olhar dela, ela sorria com toda aquela vida perfeita. Fora dali não significavam tanto para o mundo. Mas enquanto se mantinham juntos, cercados por paredes azuis e persianas eram o que mais importavam. Resolveram que não ligariam a tv. Ouvir o som do amor era bem melhor. Ela subiu na mesa do computador. Fez seu show. Ele sorriu encantado com aquela mulher. Ela brincou de fazer manha. E logo repetiram o tsunami inicial. Todos os dias. Todas as ondas que os sufocavam de gratidão fervorosa. Aquilo sim fazia jus ao sentimento aclamado em obras e diversas trovas. Amor. Nada menos que isso. E ela pensou que não existia alguém capaz de transbordar seu mais puro clamor. E ele só pedia para tê-la em sua vida para sempre. Ela simplesmente ficou.

A.F.

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