sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Luna


Ao som de uma batida romântica nossos corpos dançam. Em cada melodia o seus olhos caem nos meus, e eu penso "Oh meu Deus, como ele é lindo!", dou um sorriso tímido e volto a encarar o chão. Você convida minha mente à viajar, imaginado algum lugar onde poderíamos estar. Meu cabelo está preso, você passa os dedos em minha nuca. Aquele contato me deixa estasiada, você só me tocou ali. Coro ao imaginar os possíveis outros lugares onde você poderia me tocar. Com você é fácil sonhar acordada, e nem imaginar outra realidade. A música não para, estamos girando a quanto tempo? O tempo perdeu-se junto com meus botões. Você alisa meu rosto, me diz que tenho uns olhos de capitu. Que bela hora para me fazer apaixonar-se. Algumas gotículas de suor estão em sua testa, mas aquilo significava alguma coisa? Você não me amava. Você ainda mal me conhecia. Pensei em como era fácil se apaixonar por você, mas e se desapaixonar? Sorri ao perceber que você tinha percebido que estava viajando outra vez. Você parou de dançar, segurou meu queixo e disse que queria me levar para lua. Para lua? Sim, porque segundo você lá só existiria nós dois e as estrelas para contemplarmos. Mas que tipo de ideia era aquela? Que tipo de cara era esse? Suspirei. Disse que lá não poderíamos comer batata frita, e você abriu o tipo de sorriso que iluminava uma cidade inteira. Não sei como aconteceu, mas te puxei para perto, e você encontrou minha boca. Lá você me prendeu, e eu jurei que estávamos na bendita lua que você tanto falava.

A.F.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Cama


Nosso púpito sagrado.
Onde as línguas bailam.
Alcova melindrosa.
Esquizofrênicos desejos.
Três, vinte e cinco beijos.
Nuas, pele nua, nuca sua.
Muda, pelo suspirar descompassado.
Atrevidos, insanos e despidos.
Ouve-se sinos, passos ecoam no primeiro andar.
Altar de fantasias e sonhos.
O cabelo bagunçado.
Por sobre o corpo o calor emanado.
Os gemidos viram acordes, poesias.
O dia vira noite.
O amor vira rotina.
E é tão somente tua a vida minha.
A.F.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Fluvial


Abriu os olhos, seu rosto ainda quente, o dele por cima de seu ombro. Feito um anjo, suspirou. Deixou que ele sonhasse, levantou-se. Na sala uma parte das roupas deles. Na mesa copos cheios de vinho quente, e os pratos intocáveis com pedaços de pizza. A preferida dela. Não era fome, pensou rapidamente. Era sede. A mais sedenta de todas. Sentou no sofá. Calçou a sandália que ele lhe dera. Voltou ao quarto, o acordou acariciando a orelha. Ele a fitou, a beijou, a puxou e a bebeu. Ela o brindou, em cada gole o saboreou. A cama de solteiro era tão feita para dois corpos, que logo eram um. Evaporavam. Mergulhados. Ambos molhados de suor, de qualquer coisa parecida. A parede azul, as persianas insanas. O sol os cortavam, em linhas amarelas e sombras negras. O vai e vem dos lencóis de cetim. Os cabelos negros que se misturavam nos dedos atiçados. Ele nadava em seus rios rasos cristalinos. De repente dilúvio, e tudo desabou. A ofegante onda de calmaria. Satisfação mútua. Ela o abraçou, ele a recebeu. E pelo modo que se olhavam sabiam que seriam assim por longos e felizes anos. Ele contemplava a estrela no olhar dela, ela sorria com toda aquela vida perfeita. Fora dali não significavam tanto para o mundo. Mas enquanto se mantinham juntos, cercados por paredes azuis e persianas eram o que mais importavam. Resolveram que não ligariam a tv. Ouvir o som do amor era bem melhor. Ela subiu na mesa do computador. Fez seu show. Ele sorriu encantado com aquela mulher. Ela brincou de fazer manha. E logo repetiram o tsunami inicial. Todos os dias. Todas as ondas que os sufocavam de gratidão fervorosa. Aquilo sim fazia jus ao sentimento aclamado em obras e diversas trovas. Amor. Nada menos que isso. E ela pensou que não existia alguém capaz de transbordar seu mais puro clamor. E ele só pedia para tê-la em sua vida para sempre. Ela simplesmente ficou.

A.F.