terça-feira, 29 de julho de 2014

Sinequanon


Sim, por todas as vezes que disse não.
Não, pelas mentiras que dizem sim.
O meu não que soou o seu sim.
Talvez quisesse me dizer não.
Não, de fato não dizes.
Queres que te diga?
Sim, tu dizes que será.
Mas o futuro não nem sim nos dá.
Que sejamos um por vir.
Sem sim, pelo não um talvez.
Quem me dera dizer-te um adeus.
Mas o não que se faz de sim volta outra vez.
E no fim, já não mais sei.

A.F.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Reles imortal

O poeta não passa de um bêbado. São goles amargos de solidão. A noite vira um papel, onde lá ele suspira meio sufocado, meio atordoado e muito apaixonado. Poeta malandro, que fala sobre o amor e teima em não amar. Sua cabeça gira, seu corpo estático e a mão por sobre o copo. Os murmúrios da noite, as pessoas vazias e o preço da porção de batata frita. Observa tudo, não se importa com nada. Poeta egoísta. Acende um cigarro, fuma seus versos e por último se desfaz em cinzas. Enganando-se nos decotes alheios, por ser fruto da humanidade imunda. Desejando a indomável musa, acorda na irracionalidade interior. Fala pouco, mas na poesia conversa horas a fio. Amigo inseparável do prazer. Inimigo daqueles que não sabem beber. Poeta bêbado de palavras flutuantes. No leito um corpo jovem, cabelos negros e lábios cruéis. No peito um turvo desejo de expor, mas não sai dos papéis. E mesmo que seu coração esteja sóbrio, mesmo que ele queira vivenciar, seu cérebro inútil o torna incapaz de realizar. Quisera ele usufruir do amor que tanto exalta, sentir o calor do corpo pequeno e moreno da mulher que amada, sorrir e chorar, recitar versos sem justificá-los em gramática. Reles imortal. Condenado a ser vendedor de ilusões e mendigar chances entre todas as chances. Não realizar o último desejo, o beijo da morte serena e aguardada. Poeta, um ser deliciosamente inconstante, e isso já não mais justifica nada.
A.F.

In felicidade



Descrever você em linhas.
Fazer do seu corpo a minha rima.
Cantar sua voz.
Decifrar seu olhar e me perder.
Encontrar-me inteiramente em você.
Em seu beijo me abrigar.
Hálito que calidamente me arrepiará.
Os pêlos que se atiçarão ao lhe sentir.
Compor uma canção ao te despir.
Com minhas mãos lhe enxergar.
Desfazer-me em seu corpo.
Entregar-me sem piedade.
Poesia esse amor que absorvo.
Sem que vejam, apontem e falem.
Nos pertencemos em milhares de milhares de anos.
Que no céu estava escrito.
Nós dois, um quê a mais.
Em letras cursivas e bonitas.
Por toda uma vida.
Abraçar-te e viajar.
Beijar-te e não querer mais voltar.
Desde quando se fez meu.
Não me vi sem seu calor.
Essa boca em tudo que é seu.
Alimenta, mastiga e engole o que vem do amor.

A.F.

Artista


Vou guiada pela sua mão.
Me desenhas e emoldura.
No meio sorriso uma pura verdade.
Transformou-me.
Em cada expressão minha.
Em cada gesto e olhar.
Levo um pouco de você em mim.
Depois que o vi.
Não saberia mais viver se não estivesse aqui.
Enquanto seu pincel me fascina.
Igualmente as cores dos seus olhos,
Meu sorriso que abriga esse amor.
O mais belo retrato da minha vida.
A obra-prima que sempre me encantou.
A.F.

O que de fato será?


Por onde ele anda?
Nos espinhos cortantes.
Nos morros não uivantes.
Nas rodas de amigos.
Nos lençóis de cetim.
Tragando ou marcando.
Matando ou hipnotizando.
Caçando ou se entregando.
O que será ou quem o terá.
Fará bem melhor que nós.
Ele rondeia e por vezes anseia,
Porém ele não espera e se vai...

A.F.

No olvides


Se por acaso esquecer-te dos motivos que nos fizeram chegar até aqui, ouça a minha canção. A letra fala de um cara que pensava que amava, que pensava que sabia alguma coisa sobre o amor. No refrão ele encontra uma garota convicta, igualmente a ele. Os dois por acaso conversaram, e por acaso sentiram que tudo tinha um verdadeiro motivo. A música embala o relacionamento dos jovens, e apesar de certos desentendimentos eles não desistiram. No final eles confirmam juntos que do amor nada se aprende, se vive. E viveram os dois na plenitude do amor, na nobreza do respeito e na tensão do primeiro beijo, pois o coração acelera e a mão esfria, como se fossem juvenis, eles se amam igualmente adolescentes imaturos. O amor nos torna eternos namorados, por isso me abrace e deixe-me cantar em seu ouvido a nossa história de amor. Deixe de lado o que não interessa para nós, e finalmente me envolva em seus braços, onde sinto-me feliz e amada como jamais fui.

A.F.