domingo, 12 de abril de 2020
Funny
O engraçado nem foram suas juras evasivas e insossas, foi depois do tapa de realidade que levou. Antes seu discurso florido, agora uma podridão de palavras ofensivas desnecessárias. Ainda estou tentando entender. Era esse o teu amor? Era realmente só isso que você tinha pra oferecer? Que vergonha. Estou tão desapontada. Pensei que seria mais insistente, sabe. Pensei que valia à pena. O pouco do que vi foi suficiente. Você confundiu tudo. Pensou ser amor, era só mimo. Era apenas desejo. Voluptuoso e momentâneo. Chama que arde, mas não chega a queimar. Foi isso somente. Nada de sentimento pulsátil e dilacerante. Nada que te fez sair do padrão. Nada que fez você olhar pra trás e ter desejado nascer antes. Nada perto de tudo que me disse por telefone e pessoalmente. Tudo uma farsa. Tudo um engano. Que bom que você entendeu. Não precisei desenhar... Agora licença, preciso seguir meu caminho. É tão lindo ensinar o óbvio pra você. Revigora minha alma. Adoro rir das tuas merdas, baby. Você é um completo idiota e isso me conforta. Isso me deixa feliz. Me deixa saciada. Estou sedenta de razão, moral e sensatez. É divertido rir da sua cara, seu idiota. Não preciso lidar com isso agora. Tenho outras coisas pra fazer e você não vai ocupar mais nenhum segundo da minha atenção. Vai embora e não esquece que você melhorou meu humor, agindo assim... Exatamente assim.
A.F.
terça-feira, 7 de abril de 2020
Apetência
A sua voz rouca sussurrou palavras sujas. Meu corpo reagiu a sua intenção. A gente estava no seu carro, parados na frente da sua casa. Você não conseguiu resistir por muito tempo ao meu cheiro doce de cereja. Você me segurou nos braços e me deu um beijo feroz. Senti seu membro rígido e pus minhas mãos em você. Queria te sentir mais e mais. O clima dentro daquele espaço tão pequeno e perfeito pra gente enlouquecer embaçou os vidros. O tempo lá fora era chuvoso. A gente era só fogo. A gente fazia pegar fogo em qualquer lugar. Não dava para me controlar com seu hálito de menta, a sua língua no meu céu, a sua mão tirando meu sutiã vermelho e me expondo assim. Olhava pra ti sedenta, não tinha como fugir. Você me mastigava lentamente e variava a velocidade quando eu pedia mais. Você dirigia tão bem. Maestria sua pilotagem, baby. O ritmo dos nossos corpos era insano. Seus lábios na minha costa nua, o caminho que eles faziam na minha pele. Minhas unhas que te marcavam agressivamente. O seu cabelo bagunçado e seu sorriso safado. Tudo em você me permitia agir assim. A gente não se importava. Simplesmente fluía. O tempo molhava a grama do seu quintal, e aqui no seu carro nós dois mergulhávamos no nosso próprio oceano de desejo e prazer infinito. Adorava quando você dizia que eu era sua, e eu repetia o seu mantra favorito, 'eu sou só sua amor'. Essa nossa loucura não tinha lugar nem hora. A gente tinha fome, comia. Tinha sede, bebia. Tinha vontade, fazia. Era mais fácil com você. Era certo. Era seguro, mesmo não sendo. Não tinha como explicar, a gente sempre acabava desse jeito, suados e ofegantes. Rindo que nem bobos quando o ápice nos atingia. O sol já abria um sorriso amarelo, daqueles que dizia, sou cúmplice sim. A culpa foi nossa. Até a natureza se curvava diante do nosso implacável querer. Você me beijava e me encarava corada, ainda sem ar e completamente apaixonada. Eu te abraçada e sentia que o mundo inteiro podia explodir, pois só precisava de você. Só de você aqui, agora e pra sempre.
A.F.
quarta-feira, 1 de abril de 2020
sobre os últimos dias da terra
Nessas manhãs sombrias, o rosto dele me iluminava gentilmente. É assim que se vive uma vez. Amando, permitindo-se errar e acertar. Foi para nós uma oportunidade de tentar nos achar, dentro de nossos corpos fechados e punhos cerrados. O orgulho não nos conteve. Nós vencemos juntos dessa vez. Mesmo diante de tantas notícias ruins. Criamos um escudo e só absorvíamos o que era útil e agregava. Deixamos pra trás toda mentira e briga à toa. Não era tempo pra isso. Desfrutamos do tempo que tanto pedíamos. Desfrutamos de nós dois. Que delícia viver assim. O mundo inteiro um caos, mas aqui dentro somos um e vencemos juntos. O amor é um sacrifício diário, mas parecia tão fácil com você. Você sorria meu coração. A vida se tornara outra. Mais leve. Mais especial. Mais contagiante. Queria que todos pudessem sentir aquilo que sentíamos. Queria poder gritar que nada mais me importava se o tinha ali. Você era minha força. Eu era a sua raíz. Nutríamos nosso jardim do amor. Tudo era novo e o renovo em mim era transcendental. Em tempos difíceis seguramos a mão um do outro e nos juramos amor eterno diante do findar dos dias na terra fria, esgotada e amarga. Prometemos um pra sempre, mesmo sabendo que ele não existia. Fomos contra tudo aquilo que acreditávamos. Nos reinventamos e passamos a viver a vida que tanto sonhávamos.
A.F.
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