segunda-feira, 30 de março de 2020

Em minha mente


Na minha cama tem o cheiro dela.
Na minha mente só vem a boca dela.
O formato perfeito dos lábios.
As expressões faciais quando irritada.
O som da risada.
O quarto ainda não modificado.
Tem foto dela na parede.
Alguns borrões amassados que ela deixou.
A calcinha amarela na gaveta.
O sutiã pendurado no cabide.
As manias que ela me viciou.
Tudo tão vívido.
Não parece, faz quase 1 ano.
As últimas palavras que ela falou.
O último olhar que ela me lançou.
A dor que me rasgou o peito.
A brasa que esfriou pelo tempo.
A vida que passou a morrer em mim.
Os ponteiros do relógio de pulso,
Que parecem me torturar,
Repetidamente dizendo que ela não vem,
Que ela não volta e é melhor eu aceitar.
Mas não aceito.
Impossível.
Pra mim ela ainda está aqui.
As curvas do corpo dela que encaixam em mim.
Meu corpo que reage a cada memória dela.
Meu peito que ainda não sarou.
Ela vive em minha mente.
E não vou mentir, não quero que passe.
Quero eternizá-la.
Amá-la nem que seja assim.
Somente dentro da minha cabeça.
Saber que provei do gosto,
E ele ainda é real aqui.

A.F.

Temprano


Essa pessoa está por ai.
Não vai ser que nem aquele lá.
Não.
Ele vai ser único.
Vai ser diferente e você vai entender.
Lá na frente, você vai saber.
Toda dor que doeu.
Todo amor que te rompeu.
Toda solidão que te escondeu de si mesma.
Ele vai segurar suas mãos.
Ele vai acariciar seu rosto, pequena.
Ele vai saber.
Você também vai.
Aquela pessoa que muitos querem.
Ele virá feito brisa de primavera.
E o cheiro no ar será seu perfume.
As lavandas do campo.
Os beijos, as gotas da chuva te molhando.
E você saberá quando ele chegar.
Ele vem.
Temprano.
Faz seus planos, menina.
Ele vai chegar e te levará daqui.
Não apenas mais um.
Mas ele sim, feito para ti.
Ambos feitos um para o outro.
Destinados a se amar até o fim.

A.F.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Jazia


Não queria terminar assim.
Pedi por uma resposta.
Tarde demais.
Você se foi, não olhou pra trás.
O mundo continuou.
Eu não, eu parei ali.
Meu olhar refletindo meu eco.
Quem falava, se ouvia.
Tudo passava por mim.
Não reverberei.
Não emiti uma vogal sequer.
Fiquei completamente imóvel.
Meu peito batia.
Mas eu jazia há tempos.

A.F.

domingo, 1 de março de 2020

Prisão


Restaram as palavras soltas.
As poesias sem métricas.
As rimas desengonçadas.
Uns versos rabiscados.
Eu era poeta.
Você a inspiração.
A melodia de toda minha música.
A canção por fim cessou.
E o silêncio veio e ficou.
É inverso aqui.
Paralelo da solidão.
O inverno que congela meu peito.
O inferno que me condenou.
Prisioneira sou.
Perpétua de ausências.
Do gosto bom do teu cheiro.
Da canela do seu beijo.
Das flores dos cachos seus.
E sou refém pra sempre.
Da agonia de não sermos um.
Da imensa dor de não ser tu, meu poema.

A.F.