Amanda F.
sábado, 8 de dezembro de 2012
Quando existe medo de sentir
Ela penteou o cabelo que insistia em brigar logo de manhã. Vestiu seu casaquinho de lã verde com bolinhas roxas e sentiu que podia fazer aquilo. Não pretendia magoá-lo, mas a condição era única e inevitavelmente tudo levaria a isso. Procurou o outro par de sua bota lilás e pegou umas notas amassadas de cinco reais. Olhou pela última vez o cara deitado na cama. Excitou-se relembrando da noite anterior, mas não se permitiu a repeti-la. Tudo um dia faria sentido, ela repetia em silêncio. Atravessou a cozinha e com passos largos focalizou a saída. A saída da vida de alguém; da vida que ela queria que fosse real. Não seria fácil desistir, mas ela já sabia que tudo tomaria jeito. Desceu as escadas com pressa, com medo de que ele acordasse e revivesse o que ela pensou em matar dentro de si. Ainda havia resquícios dele ali. Nos olhos algumas lágrimas presas, mas que fez questão de secar. Sua garganta ardia, porém ela tinha fé que era o mais sensato a se fazer. Desprovida dos desejos que a cegavam ela seria feliz. Lentamente ele acordaria sozinho e leria o pequeno papel em cima da cabeceira. Daria um sorriso despojado e bocejaria com hálito de hortelã. Depois de um banho quente procuraria o telefone e discaria para alguma ex namorada. Seu peito contorceu os sentimentos, que agora eram de puro pesar. Nada a deixaria mais satisfeita do que contribuir para a felicidade alheia. Ela já sabia que ele não a procuraria. A noite passada foi uma entre tantas que ele reviveu com uma de suas ex namoradas. Distraída tropeçou no meio fio. E quando ia de cara, cotovelo e alma no chão, aqueles braços firmes e macios a envolveram. Com ar de surpresa ela o observou. Não estava com os cabelos exarcados, ainda usava o jeans de ontem, sem camisa e com o hálito de hortelã. E ele balbuciou um "eu te amo" que imediatamente a fez acreditar que tudo era real. Não haveria medo, nem dúvidas sobre aquele sentimento que ele tinha por ela. Algo que era evidentemente recíproco. Ela partiu, sim! Mas seu coração havia ficado naquele apartamento. Especificamente naquele homem.
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